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LES ARTICLES DE L'AUTEUR
O significado espacio-temporal da exclusão em Levantado do Chão de José Saramago
M. Diakhité1
Resumo
Na narratologia clássica, a análise do tempo e a do espaço são inseparáveis. Muitas vezes, há uma forte correlação entre ambas. Os dois parámetros são muito importantes quando se tratar, por exemplo, em certos romances, de estudar um fenómeno como a exclusão social. É porquê sem os dissociar, estudámos sucessivamente o significado ideológico do espaço e do tempo em relação à questão da marginalização social em Levantado do Chão (1980) de José Saramago. Neste registo, convem notar que certas eras históricas assim como certas áreas geográficas são, segundo os casos, momentos ou lugares privilegiados de exclusão. São portanto essas conotações do espaço e do tempo que tentámos pôr em destaque neste estudo num andamento de vai-e-vem entre os instrumentos teóricos literários, linguísticos, sociológicos, ver até arquitectónicos e a nossa obra de referência - Levantado do Chão.
Palavras-chaves : Espaço, tempo, salazarismo, exclusão, luta de classes.
Le sens spatio-temporel de l'exclusion dans Levantado do Chão de José Saramago.
Résumé
Dans la narratologie classique, l'analyse du temps et celle de l'espace sont indissociables. Très souvent il y a une forte corrélation entre les deux. Les deux paramètres sont très importants quand il s'agit, par exemple, dans certains romans d'étudier un phénomène comme l'exclusion sociale. C'est pourquoi sans les dissocier nous avons étudié successivement la signification idéologique de l'espace et du temps par rapport à la question de la marginalisation sociale dans Levantado do Chão (1980) de José Saramago. Dans ce registre, il convient de noter que certaines ères historiques tout comme certaines aires géographiques sont, selon les cas, des moments ou des lieux propices d'exclusion. C'est donc ces connotations de l'espace et du temps attenant à l'exclusion que nous avons essayé de mettre en exergue dans cette étude dans une démarche de va-et-vient entre les instruments théoriques littéraires, linguistiques, sociologiques, voire architecturaux et notre uvre de référence Levantado do Chão.
Mots-clés : Espace, temps, salazarisme, exclusion, lutte de classes.
The spatio-temporal meaning of exclusion in Levantado do Chão by José Saramago
Abstract
In classical narratology, the analysis of time and space are inseparable. Very often there is a strong correlation between the two. Both parameters are very important when it comes, for example, in some novels to study a phenomenon like social exclusion. This is why, without dissociating them, we have successively studied the ideological significance of space and time in relation to the question of social marginalization in José Saramago's Levantado do Chão (1980). In this register, it should be noted that certain historical eras as well as certain geographical areas are, depending on the case, moments or places conducive to exclusion. It is therefore these connotations of space and time attached to exclusion that we have tried to highlight in this study, in a move back and forth between literary, linguistic, sociological, theoretical instruments, and even architectural and our reference work Levantado do Chão.
Keywords: Space, time, salazarism, exclusion, class struggle.
A problemática do tempo sobressai sem dúvida nenhuma da composição da narração. Há com efeito uma extensão da diégese avaliável em termos de número de linhas e páginas. Um narrador independentemente da sua natureza heterodiegética ou homodiegética, pode consagrar um comprimento variável de texto, isto é mais ou menos tempo, à narração de um facto. Em compensação, a narratologia clássica tem habitualmente tendência a excluir o estudo do espaço. Na opinão de Gérard Genette, o espaço é uma componente do conteúdo, entendamos por aí da história: não convem pois analizá-lo no quadro de um estudo da forma, isto é da narração. Aos teóricos da história é que incumbiria a tarefa de o abraçar. Ademais, do latim clássico excludere significando marginalizar, pôr na periferia, o vocábulo exclusão surgiu na França dos trinta anos gloriosos de desenvolvimento sob a pena de Pierre Massé na altura Secretário Geral do Plano. Todavia é a René Lenoir2 que se reconhecerá o uso da lexia exclusão nas ciências humanas e da audiência de que usufrui hoje em dia junto ao grande público.
Sabemos também que certas épocas históricas assim como certos espaços físicos e a problemática da exclusão são intimamente ligados. Mas é também verdade que na narratologia clássica, a análise do tempo e a do espaço são indissociáveis. Muitas vezes, há uma forte correlação entre as duas. Por exemplo, um espaço pode-nos ser apresentado numa época histórica particular (o latifundium sob a monarquia, a título de exemplo). E a descrição do espaço durante um dia ou uma hora na diégese pode fazer-se numa ou duas páginas (é o que chamamos tempo da narração). Sem perder de vista essas considerações relativas ao carácter indissociável do tempo e do espaço, uma outra exigência se impõe: a clareza do trabalho exposto. Na resolução de um problema de uma equação matemática a título de exemplo, especialistas optaram pela divisão do problema em unidades simples. A análise do espaço-tempo só por si numa exegese revela-se complexa. Quando a ela se junta uma noção polissémica como a exclusão, a tarefa do crítico torna-se uma vez ainda árdua. Todavia uma série de perguntas merece ser feita: qual é a dimensão ideológica do espaço e do tempo em Levantado do Chão; que aspectos, que modalidades revestem o espaço e o tempo relativamente à problemática da exclusão no nosso romance? A resposta a estas perguntas vai conduzir-nos no centro da nossa reflexão acerca da referida problemática.
Assim, sem querer dissociá-los explicitamente, estudaremos sucessivamente o sentido espacial e temporal da exclusão. Dissociaremos as duas análises quando isso se revela necessário e útil para a nossa demonstração. Juntaremos os dois conceitos num outro trabalho que poderá ser intitulado, por exemplo, "O espaço-tempo em Levantado do Chão" em sintonia com as exigências da crítica literária pois no presente capítulo vamos combinar subtilmente a análise literária e o procedimento do sociólogo, para ver até por momentos, como veremos a seguir quando se tratar de nos debruçarmos sobre o habitat do povo, o método do arquítecto.
1. O sentido espacial da exclusão
Por um lado, se no decorrer do tempo, ela adopta conotações sociais ou outras, a noção de exclusão fica na sua origem, intrinsecamente ligada à do espaço, sendo o espaço por si-próprio, por definição, "um espaço socializado"3.
Também o fenómeno de exclusão concebe-se como uma situação na margem em relação a um centro : a um centro se opõem portanto as periferias consideradas como área de predilecção da marginalização. É precisamente esse sentido da exclusão relativo ao espaço que vamos tentar demonstrar para avaliar a pertinência desta problemática no nosso romance.
Para as necessidades de um tal modo de proceder, vamos, num primeiro tempo, pôr em relevo a dimensão arquitectural da casa dos rurais caracterizada pela sua promiscuidade, ao mesmo tempo, símbolo da sua exclusão, a seguir a terra estrangeira como lugar de exclusão, e enfim, poremos a tónica sobre o universo carceral como topos de exclusão por excelência. Nesta análise da exclusão do rural por meio da promiscuidade do seu habitat, basear-nos-emos essencialmente nos trabalhos de um crítico, José Joaquín Parra Banón4, que, na nossa opinião, merecem uma menção particular. Inspirar-nos-emos portanto nos escritos deste especialista, para assentar a nossa própria argumentação. Para os devidos efeitos, interessar-nos-emos pela casa de dois casais de rurais : o primeiro simbolizando a primeira geração de operários agrícolas constituída por Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição ; o segundo incarnando a terceira geração formada por Manuel Espada e Gracinda Mau-Tempo.
A casa de Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição em São Cristovão é uma casa minúscula. Também convem assinalar que até hoje em dia, por numerosas que possam ser os cálculos, hipóteses e outras reflexões formulados a este respeito, ignoramos as mais pequenas dimensões que deve conter a arquitectura para que seja habitável. A este respeito, o especialista a que aludímos acima oferece-nos alguns exemplos dos Antigos que merecem reflexão :
"Como contou Platão nos dialógos, o cínico Diógenes, príncipe dos radicais, vivia num tonel sem queixar-se de falta de espaço ou de incomodidade; São Simão do deserto segundo afirmam os santorais, viveu parte da sua instável vida de pé sobre o capitel de uma coluna içável na deslocação das dunas; mas este, que não alcançou o título de mártir, em vez de viver queria santificar-se, não podendo ser, portanto, nem patrono do habitável nem a sua estância em equilíbrio sobre a terra modelo de resistência"5.
Ao analisarmos este trecho, é forçoso constatar que a casa de Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição sem ser tonel nem tenda, não respeita as normas de habitabilidade viável. A sua morada lembra o tempo medieval. Mal mereceria aliás a designação de "casa" pois o significado do vocábulo ultrapassa de longe o seu conteúdo. Pelo menos é esta a ideia que parece decorrer em filigrana deste trecho de Levantado do Chão : "Meteram por uma travessa onde as casas alternavam com quintais, e parou diante de um casinhoto baixo.É aqui, perguntou a mulher, e o marido respondeu, É"6.
Sobressai desta passagem a constatação de que a casa dos Mau-Tempo se caracteriza no que respeita à envergadura e ao tamanho pela sua pequenez, "Um casinhoto baixo" afirma o texto. Também o espaço nos é apresentado em função de um binarismo primário entre alto e baixo. Aqui, o alto simboliza as camadas privilegiadas e o baixo as periférias. Na base destas considerações, vemos portanto que, do ponto de vista da envergadura, o tamanho da casa desta primeira geração de rurais é um signo distintivo revelador da exclusão dos oprimidos de que o casal Mau-Tempo representa o arquétipo mais notável.
Para Parra Banón, um casinhoto não é um palácio se bem que tenha a chave grande para abrir uma pequena porta, que essa contradição das dimensões não é senão um entre os inúmeros contratempos dos Mau-Tempo como este que os espera consistente em se instalar numa casa velha e descobrir que ela é desprovida de janelas :
"Com a grande chave, Domingos Mau-Tempo abriu a porta. Para entrar, tiveram de curvar-se, isto não é nenhum palácio de altos portões. A casa não tinha janela. À esquerda era a chaminé, de lareira rente ao chão. Domingos Mau-Tempo petiscou lume, sobrou um punhado de palha e pôs-se a girar o fugaz archote para que a mulher visse a nova habitação. [...] A casa então ficou habitada"7.
Da análise deste trecho sobressai a ideia segundo a qual não só a casa desta primeira geração de camponeses é velha mas também é desprovida de electricidade; nem dispõe de lâmpadas visando iluminar os locais como a tradição impunha em certos castelos medievais. Mas no limiar deste estudo este investigador não afirmou e de boa fé : "Uma pocilga não é nenhum palácio de altos portões"8 ?
Também convem sublinhar que esta casa só é cozinha, a cozinha com uma chaminé e o chão é um inferno de chamas e o tecto e as paredes só servem para que o fogo não se apague. A casa é pequena e tem como único adorno uma porta aberta para a rua e uma outra para o pátio, ambas simples válvulas postas nas extremidades de uma trajectória que se dilata. Trata-se portanto de um espaço doméstico, um lar exíguo cujas características essenciais são a promiscuidade e a falta de higiene.
O casal formado por Manuel Espada e Gracinda Mau-Tempo simbolizando não só a terceira geração de rurais mas também a do despertar das consciências não foge da regra. Na opinião de Parra Banón, este casal viverá como os avós da noiva, numa outra casa alugada, também com este muito útil pátio para essas actividades, que, por serem íntimas e higiénicas, costumam fazer-se, quando o indivíduo se encontra sozinho, ao ar livre no caso de não haver outras dependências como continua a ser o caso, porque esta casa é também pequena:
"Tão pequena a casa, de renda [...] Moro por aí... nesta casa que é só parede e porta, uma divisão em baixo e outra em cima, uma escadinha que treme quando lhe ponho o pé, e o lume apagado quando estivermos ausentes. Vamos morar nesta encosta de Monte Lavre, dentro deste quintalito, não chega o espaço para levantar a enxada se quisermos cultivar nele um pé de couve, é verdade que se lhe dá o sol todo o dia, nem sei se vale a pena, não estamos gordos por isso"9.
A casa dos Espada é "Só parede e porta". Nesta casa desprovida de janela, o papel assumido pela porta é duplo. Não só servia de porta mas também de janela para favorecer a contemplação e o arejamento da casa. Frente à promiscuidade da casa do pobre, uma imagem proveniente de um outro universo - a dos Bertos, símbolo do centro -, é susceptível de ter efeitos negativos para a nossa sensibilidade de tal forma as clivagens são gritantes: a de casas senhoriais comparáveis com verdadeiros castelos e do luxo insolente.
A respeito desta casa dos Espada, José Joaquín Parra Banón parodiando no seu livro referido, um trecho de Levantado do Chão, estima:
"[ ] Tem a casa, para ampliar a superfície, uma divisão horizontal que parece ser algo assim como um entrepiso, um chão de madeira de parede a parede que faz do armário, uma estante útil para guardar as alfaias do campo. Um piso em baixo onde se vive e um piso suspenso sobre parte dele; há também uma escadinha fraca e tremelicante que diz ao visitante que a casa está em mau estado. É a casa um quintalito com uma porta descoberta que metaforicamente, poderia chamar-se horta, ou pátio se coubesse uma enxada, ou jardim se for entendido como vaso; qualquer que seja o nome, poço ou respiradouro, o buraco está bem orientado, virado ao sul; mas a orientação é subsidiária de maiores interesses na pobreza, do comer por exemplo, pois a soalheira é um bem que não alimenta, um prazer de que desfruta quem descansa e que temem, no meio dos campos às quarto da tarde e nas casas, os trabalhadores agrícolas e suas famílias. Sobra sol a esta casa, sendo tantas outras as suas carências"10.
Esta descrição pormenorizada da casa dos Espada põe em destaque um universo de pauperismo, ele próprio revelador da exclusão pois o desenvolvimento contemporâneo das cidades tanto nos países do Sul como nos do Norte desvendou um fenómeno de concentração, agrupamento, densificação e guetorização dos desfavorecidos em bairros periféricos e casas insalubres e caracterizadas pela sua exiguidade.
Também põe esta descrição a tónica particularmente sobre elementos internos da casa do que sobre os externos. Esta tónica posta na descrição de espaços internos pela autoridade enunciativa não é inocente. Visa traduzir para além dos determinismos de carácter adventício dos factores climáticos, sociológicos e das condições socio-económicas, a exclusão é antes de tudo um fenómeno endógeno que se vive no mais fundo de cada um de nós. Mais do que os constrangimentos exercidos pelos outros, nós próprios é que nos excluímos do macrocosmos social. Deste jeito, o fenómeno de exclusão que afecta o sujeito não é sofrido mas desejado.
Depois vem a exclusão pela terra estrangeira. O estrangeiro simboliza o desconhecido. Suscita o medo. A esmagadora maioria da gente tem tendência para ligar o medo à ideia de fealdade. Mas é também comumente admitido que a beleza pode gerar o terror puro no caso de ela ser ligada à de desconhecido. A terra estrangeira reifica o viajante reforçando ao mesmo tempo o seu sentimento de exclusão. Aos constrangimentos exercidos pela geografia e o meio físico sobre o forasteiro acrescenta-se a hostilidade de certos autóctones com eflúvios xenófobos. Explicitemos estas considerações. Com efeito, o meio natural exerce determinismos negativos sobre os trabalhadores pobres no romance neo-realista. Na terra estrangeira, essas influências negativas tornam-se ainda mais pungentes. Era portanto o caso das influências negativas do espaço físico sobre os jovens operários agrícolas António Mau-Tempo, Carolina da Avó e o seu amigo espanhol Miguel Hernandez em França sobre os quais vamos nos debruçar nos parágrafos a seguir.
Durante os períodos favoráveis da vida nacional, tem-se o hábito de atribuir esse sucesso ao mérito de nacionais excluindo o estrangeiro. Mas assim que os negócios públicos não funcionem correctamente e se encontrem confinados num beco sem saída, temos o hábito de encontrar bodes emissários e muito frequentemente o primeiro incriminado é o forasteiro. É neste registo que convem inscrever a exclusão de António Mau-Tempo, de Carolino da Avó de Monte Lavre e do seu amigo Espanhol Miguel Hernandez de Fuente Palmera, estes três jovens, ao concordarmos com a autoridade enunciativa, foram trabalhar como operários agrícolas no nível dos campos normandos à procura de uma moeda forte. Mas a sua exclusão é posta em evidência pelas alegações das prostitutas que consideram todos os estrangeiros, inclusive os ibéricos, como negros. Mas através desta atitude é um piscar de olho que Saramago parece dirigir a esta outra parte da Europa pois as pretendidas considerações emanam de personagens de costumes duvidosos. A isso se acrescenta a opressão tradicional pela terra estrangeira:
"E a França, que é. A França é um campo infindo de beterrabas em que a binar se trabalha dezasseis ou dezassete horas por dia, é um modo de dizer, porque, sendo tantas, são todas as do dia e não poucas da noite. A França é uma família de normandos que vê entrar-lhe pela porta dentro três bichos ibéricos, dois portugueses e um espanhol da Andaluzia, mais explicadamente António Mau-Tempo e Carolino da Avó, de Monte Lavre, e Miguel Hernandez, de Fuente Palmera, este sabe suas palavras de francês, ciência de emigrante, e com elas diz que estão ali os três de contrato. A França é um palheiro de pouco resguardo para o pouco dormir e um prato de batatas, é uma terra onde misteriosamente não há domingos nem dias santos. A França é um derreamento de rins, duas facas espetadas aqui e aqui, uma aflição de cruzes martirizadas, uma crucificação num bocado de chão. [...] A França é este desprezo, este falar e olhar em modo de mangação"11.
Colocadas no seu contexto, essas considerações, tomando em conta o papel assumido pelo escritor na sociedade, não passam de meras alegações visando desanimar os candidatos à emigração pois, ainda em 1980, data de publicação de Levantado do Chão, Portugal ainda não aderiu à comunidade europeia e uma emigração massiva esvaziava os campos portugueses das suas forças vivas.
É igualmente na mesma ordem de ideias que convem inscrever o envio massivo de opositores, vagabundos, contrabandistas, delinquentes e outros vigaristas para as colónias. O caso de José Gato é um exemplo significativo. Este bandido descarado e a sua malta dificultaram o trabalho da administração. Matou, roubou o rico e menosprezou as leis da República. Para proteger o pobre, não hesitou em despossessar o rico dos seus bens. Essa situação muito cedo o colocou numa situação conflituosa com a polícia e a Guarda Nacional Republicana do seu país.
Apesar das inúmeras tentativas de aprisionamento - e não faltaram -, conseguiu, por vezes, mercê cumplicidades ao mais alto nível da escala social, escapar das armadilhas postas pela justiça. A vida caracteriza-se pela sua transitoriedade e cada coisa tem um fim marcado. E um dia, ao passar por intensos momentos de alegria com a eleita do seu coração, se calhar denunciado, José Gato foi preso. Desta vez, a esperteza e a inteligência não serviram para nada. Foi o fim de um episódio movimentado da vida do latifúndio, pelo menos do ponto de vista dos privilegiados do Estado, e para os rurais a perda de um parceiro capital pois com este aprisionamento desvaneciam as esperanças de libertação dos opositores políticos presos. Nesse dia, o destino de José Gato teve um rumo decretado: será enviado para as colónias. Ouviu-se dizer de boca em boca que, lá, foi promovido a cabo da segurança. Outras línguas afirmaram que foi lá morto:
"O José Gato é que só foi preso uns tempos depois, em Vendas Novas. Estava amantizado com uma mulher que vendia ali hortaliça e andava sempre disfarçado, por isso os guardas nunca o pilhavam, há quem diga que foi ela quem a denunciou, que isso eu não sei. Foi preso em casa da amante, num sotão, quando dormia, ainda disse, Se não o apanham a dormir, podem ter a certeza que não era desta. Depois falou-se que o levaram para Lisboa, e, assim como empregaram todos os outros por conta dos lavradores, disseram que o José Gato tinha ido para as colónias como agente da polícia de vigilância e defesa do estado. Não sei se ele aceitaria, custa-me a crer, ou se o mataram e deram essa desculpa, outros casos se têm visto, não sei"12.
Com toda a evidência, uma coisa é contudo segura, é que o exílio nas colónias não é uma promoção, é a forma mais conseguida da exclusão. A distância aniquila os sentimentos. A este determinismo da distância acrescenta-se a tradicional opressão pelo meio físico muito frequentemente hóstil ao estrangeiro: na verdade a terra estrangeira aliena o viajante e acentua nele o sentimento de solidão e de exclusão. Muitas vezes o estrangeiro sente-se ali nas extremidades do mundo ferozmente isolado.
Neste estudo da exclusão, na sua relação com a geografia, a prisão é verdadeiramente o ponto culminante. Ela simboliza o espaço de exclusão por excelência. Na sua génese consiste em isolar, intra muros, indivíduos perigosos para a sociedade. Vejamos concretamente, a este respeito, as informações que o material do nosso trabalho é de natureza a nos proporcionar.
A prisão constitui, com efeito, o clímax da coisificação do rural. Atestam disso as condições desumanas de detenção de Sigismundo Canastro, João Mau-Tempo e Manuel Espada dados como cérebros da insurreição a favor de um aumento do ordenado horário: O tecto do casarão é baixo, tem quase rente uma lâmpada eléctrica, só uma, vinte e cinco velas, não mais, ainda não deixámos os hábitos de poupar, e afinal o calor é insuportável, quem disse o contrário"13.
É no mesmo registo que convem inscrever o suplício físico e moral sofrido pelos presos. O caso de João Mau-Tempo é um exemplo surpreendente:
"João Mau-Tempo vai fazer setenta e duas horas de estátua. Vão-se-lhe inchar as pernas, terá vertigens, sera espancada com régua e com o cacete, sem muita força, mas para aleijar, de cada vez que as pernas cederem. Não chorava, mas tinha lágrimas, até uma pedra teria piedade[...], era outra das suas verdades"14.
Algures uma pergunta merece ser feita: qual é o significado ideológico do tempo relativamente à problemática da marginalização social no nosso romance?
2. A dimensão temporal da exclusão
Noutra parte, uma outra acepção da exclusão e não dos menores, em Levantado do Chão, é a relação entretida pelo tempo e o fenómeno de exclusão das personagens deste romance. Convem, logo de entrada, distinguir duas componentes dessa noção polissémica do tempo: o tempo físico e o tempo narrativo. As páginas deste estudo que antecederam consistiram em situar a noção de centro na História e no romance e ocultaram - pois não sendo o seu propósito - o lugar das periferias, a exclusão destas. Falar em poética equivale conduzir uma reflexão acerca do espaço, o tempo, o enredo, os actores da narração. Neste título, depois de nos debruçarmos sobre o sentido espacial da exclusão, o nosso estudo ficaria incompleto se não tivesse abrangido a dimensão temporal dessa problemática; as partes seguintes deste trabalho encarregando-se estudar o lugar da instância narradora e os actores da narração nessa prosa romanesca.
Debruçar-se sobre a ordem temporal de uma narração, consiste em estabelecer um paralelismo entre a ordem de disposição dessas situações ou fracções temporais no discurso narrativo e a ordem de sucessão dessas mesmas situações ou segmentos temporais na história, sendo esta claramente mencionada na própria narração e que se está capaz dela extrair tal ou tal sinal alusivo. É claro que tal reedificação não é sempre na ordem do possível e que se torna fútil para certas obras-limites como os romances de Robbe-Grillet, em que "a referência temporal" se encontra intencionalmente desviada. É também inteiramente verdade, pelo contrário, que na narração tradicional, não só é frequentemente realizável, porque a narração nunca inverte a ordem de sucessão dos eventos sem o dizer explicitamente, mas também essencial; e exactamente pelo mesmo motivo: quando uma sequência narrativa começa por notações tais como "três meses mais cedo, etc.", é preciso tomar em consideração o facto de que essa sequência vem depois, e que é presumida ser aparecida antes na diégese: um ou outro, ou para melhor dizer, a correlação (de contradição, ou de dissonância) entre um e outro, é fundamental para o texto narrativo, e ocultar essa correlação ao excluir um desses vocábulos, é ser infiel ao texto, é simplesmente o mandar ad patres. (Cf. Gérard Genette, 1972).
Como o sugere Eugénio Lisboa, aos erros recurrentes convem trazer as correcções repetidas, consistirá a nossa tarefa em estudar a exclusão, primeiro, pelo meio do tempo físico e, depois, pelo tempo narrativo.
Também convem precisar que, neste romance, Saramago confere uma atenção singular ao tempo. A visão que Levantado do Chão nos oferece do tempo é, na nossa opinião, mais problemática do que a do espaço. À uniformidade do espaço fundamentalmente constituído pelo latifúndio - ou o Alentejo - se opõem a multiplicidade e a polissemia dos diferentes episódios da História nacional e do enredo.
Do mesmo modo convem afirmar que, se podemos escapar do espaço, é muito difícil, até impossível evitar os determinismos do tempo. A percepção do tempo que José Saramago frisa nesta metaficção historiográfica é ao mesmo tempo realista e subjectiva. A análise do tempo em Levantado do Chão leva a uma constatação: a divisão deste em duas componentes: um tempo físico e um tempo narrativo.
Para dar conta dessa problemática, voltemos às referidas considerações de Gérard Genette. Contrariamente aos ditos romances de Robbe Grillet em que "la référence temporelle se trouve à dessein pervertie", vemos que a ordem de sucessão temporal em Levantado do Chão obedece à da narração clássica. Isto é que a narração não atormenta a ordem temporal de propósito sem previamente avisar o leitor com expressões tais como "autrefois", "jadis" e fazendo abstracção do seu carácter iterativo "quelques fois" características da analepse ou "des années plus tard", "trois mois après" características das prolepses. Entre as duas existem anacronias, um grau zero da escrita onde os dois elementos (tempo da história e pseudo-tempo da narração) se confundem.
Sabemos que o romance Levantado do Chão começa por uma descrição da paisagem do latifúndio que nos remete ao século XVI. Para nos convencermos disso, basta simplesmente aludirmos ao trecho seguinte: "O que mais há na terra é paisagem [...], quem duvidará de que assim vai ficar até a consumição dos séculos" (LC, pp. 11-14). É pois o ponto de partida da diégese.
Durante quatro gerações de Mau-tempo, a autoridade responsável pela narração retraçará o percurso de exclusão dos rurais até ao advento da justiça social com a geração de Maria Adelaide Espada. Para pôr em evidência a ordem de sucessão temporal, examinemos o trecho seguinte:
"Já de vontade não fora aquela outra rapariga, quase quinhentos anos antes, que estando um dia sozinha na fonte a encher a infusa, viu chegar um daqueles estrangeiros que viera com Lamberto Horques Alemão, alcaide-mor de Monte Lavre por mercê do rei Dom João o primeiro, gente de falar desentendido, e que, desatendo aos gritos e rogos da donzela, a levou para uma espessura de fetos onde, a seu prazer, a forçou. Era um galhardo homem de pele branca e olhos azuis, que não tinha outra culpa que o atiçado do sangue, mas ela não foi capaz de lhe querer bem e sozinha pariu como pode ao fim do tempo. Assim, durante quatro séculos estes olhos azuis vindos da Germânia apareceram e desapareceram tal como os cometas que se perdem no caminho e regressam quando com eles já não conta, ou simplesmente porque ninguém cuidou de registar as passagens e descobrir a sua regularidade"(LC, p. 24).
Este trecho diz respeito à génese dos Mau-Tempo que, como o apelido (Mau-Tempo) o indica, prediz um futuro difícil para as três gerações dessa família rural.
Há um primeiro segmento narrativo ("Já de vontade não fora aquela outra rapariga, quase quinhentos anos antes, que estando um dia sozinha na fonte a encher a infusa, viu chegar um daqueles estrangeiros que viera com Lamberto Horques Alemão, alcaide-mor de Monte Lavre por mercê do rei Dom João o primeiro, gente de falar desentendido, e que, desatendo aos gritos e rogos da donzela, a levou para uma espessura de fetos onde, a seu prazer, a forçou"). Chamemos este primeiro segmento A. Há em A duas referências temporais essenciais: "quase quinhentos anos antes" e a alusão à época do "rei Dom João o primeiro".
O segundo segmento é o seguinte: "Era um galhardo homem de pele branca e olhos azuis, que não tinha outra culpa que o atiçado do sangue, mas ela não foi capaz de lhe querer bem e sozinha pariu como pode ao fim do tempo." Chamemos este segmento B. Há uma referência temporal"ao fim do tempo."
Enfim o último segmento narrativo é o seguinte: Assim, durante quatro séculos estes olhos azuis vindos da Germânia apareceram e desapareceram tal como os cometas que se perdem no caminho e regressam quando com eles já não conta, ou simplesmente porque ninguém cuidou de registar as passagens e descobrir a sua regularidade". Chamemos este segmento C. Há duas referências temporais em C: "durante quatro séculos" e "quando". Trata-se de uma espécie de prolepse.
Completemos a nossa análise! No segmento A, a referência temporal "quase quinhentos anos antes" constituí a data da violação da donzela antepassada dos Mau-Tempo. Mas quer também dizer que os eventos contados aparecem antes do que a instância narradora está a contar na diégese. "Na época do rei Dom João o primeiro" vem acrescentar uma precisão à época referida. Com esta perifrase, sabemos daí para diante que são quinhentos anos mais cedo, na época de Dom João o primeiro que a referida donzela foi violentada. Trata-se do início do fenómeno de exclusão dos rurais. No segmento B, a referência temporal "ao fim do tempo" proporcia-nos informações respeitantes ao fim da pregnância da antepassada dos Mau-Tempo.
E enfim no segmento C, "durante quatro séculos" e "quando" dá-nos informações acerca da duração do fenómeno de exclusão dos rurais (quatro séculos) ou seja da regência de Dom João 1° no século XVI até ao século XX, e mais precisamente em 1980, seja seis anos depois da revolução dos cravos). Mas sobretudo a referência temporal "durante quatro séculos" parece dizer-nos que os eventos relatados vêm depois do que o narrador está a contar. Trata-se de um durativo com valor de prolepse pois há um desenrolar do presente para o futuro.
Consideremos O o ponto de partida da diégese. Temos desde então a configuração seguinte:
O→A→B→C
A não ser o movimento retrospectivo de O para A, não há ziguezagues, temos antes pelo contrário uma certa linearidade dos acontecimentos contados parecida com a linearidade do signo linguístico mais fácil de evacuar na teoria do que na prática.
Também numa parte certas referências temporais parecem nítidas: a época da monarquia, a primeira República, a ditadura militar, o Estado Novo, a transição caetanista, o período pós-revolução dos cravos ou as alusões de ordem estacional: "Outono", "Inverno", "Primavera", "Verão".
Nesta perspectiva, convem notar que embora seja dificilmente classificável nas correntes literárias notórias da sua época, Saramago admite todavia a influência do Neo-Realismo literário pelo menos em Levantado do Chão15.
Ora o desfile das quatro estações do ano (Outono, Primavera, Inverno e Verão) é uma opção ideológica fundamental do Neo-Realismo. Visa caracterizar a transformação das situações sociais.
Por causa do mau tempo que trazem, o Inverno, o Outono, e por vezes os verões chuvosos e de trovoada são momentos privilegiados de exclusão.
Noutra parte, certas referências temporais são turvas. É o que notamos por via das prolepses observadas em certos episódios do enredo. Estas visões para diante, em particular, a do fim do romance, depois da resurreição dos mortos parecem mais provir duma visão escatológica do devir das civilizações do que de experiências vividas pelo ficcionista. Contudo, por ser turva, esta prolepse não passa de um medium que permite aos proletários eliminar os demônios da exclusão. De facto o seu advento coincide com o surto da justiça social.
No que diz respeito ao tempo narrativo, convem assinalar que, para estruturar a ideologia do seu romance, Saramago incorporou na sua obra de ficção factos herdados da História nacional. Neste título, História e ficção são indissociáveis. Entenderemos pois por tempo narrativo tanto os episódios da história como o tempo da narração: imperfeito, presente gnómico e futuro.
A história entendida ao mesmo tempo como History (história no mundo referencial) e narração ficcional (story) do latifundium é uma história de exclusão, pelo menos se acreditarmos nos dizeres da instância narrativa em Levantado do Chão. A monarquia tinha os seus filhos, os seus acólitos, os seus protegidos - senhores, barões, duques, duquesas e outros condes e condessas - e excluía tudo quanto não fosse idêntico a esse nós primordial (camponeses, vigaristas e outros parentes pobres do reino).
Tanto a primeira República como o salazarismo, passando pela ditadura militar, tinham os seus favoritos e os seus excluídos.
Portugal do amanhecer imediato da revolução não fugirá da regra: ao quererem suprimir as desigualdades sociais, diante da complexidade da tarefa, as elites políticas deveram resolver-se sacrificar partes importantes da sociedade em prol da paz social, de um crescimento cuidado e de uma vontade sem cessar reafirmada em integrar a comunidade europeia. Só o "presente" da clausura do romance em que os mortos e os vivos se encontram, depois da Revolução, é um oásis de justiça no vasto deserto da História.
Essa última (a clausura do texto) é-nos apresentada sob uma forma apocalíptica. Ao ver de Kermode16, no apocalipse é preciso tomar em consideração dois aspectos. Numa parte, mentalmente se procede à harmonização do passado, recuperado pela memória, com o futuro que é predito. Ora quem disser fim - e fim para a humanidade e o planeta - diz terror, medo, dissolução. Por outro lado, esse fim será todavia o advento de uma nova humanidade. Quais são as lições que podemos tirar da exégese bíblica a este respeito?
Concordemos em dizer que o último livro da revelação para os cristãos - porque Saramago convoca frequentemente este livro em Levantado do Chão - prediz severas sanções contra os descrentes. Mas anuncia também o início de tempos novos.
À maneira do nebuloso tempo das origens da abertura de Levantado do Chão, o fim do século em Portugal (1980) que o romance representa é também um momento de renascimento, de transformação, conclusões e de começos. Quanto a este aspecto da questão os últimos capítulos de Levantado do Chão são extremamente elucidativos. A este título, o penúltimo capítulo fala dos terrores e das tentativas de escapismo dos latifundiários. As falas de Dona Clemência são a este respeito edificantes: " , estava-me reservado esta provação, ver a terra de meus avós nas mãos destes ladrões, é o fim do mundo quando se ataca a propriedade, alicerce divino e profano da nossa civilização..."(p. 361, LC).
Nessas linhas finais do livro, o leitor intrigado vê Lamberto queixar-se junto ao cabo Tacabo por alusão a esses "acontecimentos apocalípticos".
Em função dos objectivos enunciados na nossa introdução e na base da análise da obra Levantado do Chão de José Saramago, convem dizer que a instância autorial tentou pintar um universo de exclusão na sua tentativa de denunciar os abusos do salazarismo (e mais tarde do caetanismo). Esse regime político plutocrático favorecia, como vimos, as elites políticas, religiosas, económicas ou culturais em detrimento da esmagadora maioria da população (o proletariado agrícola). Esse antagonismo de classes é bem evidente em Levantado do Chão e transparece explicita ou implicitamente através da análise do espaço e do tempo na sua relação com a problemática da exclusão (que fica uma das preocupações maiores do romancista nesta obra publicada sugestivamente em 1980, ou seja 6 anos depois da Revolução dos Cravos).
Por um lado, em Levantado do Chão, o estudo do espaço visa pôr em destaque o fenómeno da exclusão das classes pobres. Por exemplo, as moradas dos proletários rurais são pequenas, caracterizadas pela promiscuidade e a falta de higiene ao passo que as dos latifundiários são luxuosas e grandes. Também o meio físico (prisão, a terra estrangeira) ou a natureza são geralmente hostis aos camponeses pobres pois accentuam o seu fenómeno de exclusão na medida em que estes se encontram já em condições materiais bastante difíceis.
Por outro lado, o tempo (seja ele físico ou narrativo) põe também em relevo a marginalização da esmagadora maioria da população (os trabalhadores rurais) por uma pequena minoria (os ricos latifundiários), isso do século XVI até o surto das primeiras luzes democráticas ocorridas com a Revolução dos Cravos do 25 de Abril de 1974. Assim convem dizer que a monarquia tinha os seus acólitos, os seus protegidos (barrões, duques e duquesas) e excluía tudo quanto não fosse idêntico a este Nós primordial (trabalhadores pobres, vigaristas, contrabandistas, bêbedos - o caso Domingos Mau-Tempo - e outros parentes pobres do reino). A primeira República, o Salazarismo, a transição caetanista, a época pós-revolucionária também não fugiram da regra.
Vimos pois que o estudo do espaço e do tempo na sua relação com a problemática da exclusão constituí uma das preocupações indesmentíveis do autor José Saramago em Levantado do Chão.
Desta maneira, as reflexões assim apresentadas devem ser consideradas como uma contribuição e não como uma tentativa não confessada consistente em confinar numa definição limitadora a heterogeneidade e a diversidade da produção ficcional de Saramago acerca da referida problemática neste romance.
Uma vez imaginada a dimensão espacio-temporal da exclusão, podemos, por exemplo, situar a parte de responsabilidade que incumbe às instituições, por um lado, e aos indivíduos eles próprios, por outro lado, nesse percurso de exclusão dos rurais do Latifundium. Mas na verdade, isso pode constituir o ponto de partida da redação de um outro artigo.
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Notes :
1. O Doutor Mahamadou DIAKHITE é "Maître de Conférences Assimilé" no Departamento de Línguas e Civilizações Românicas da Universidade Cheikh Anta Diop de Dacar.
2. Cf. Referimo-nos ao livro magistral seguinte : René LENOIR, Les Exclus : un Français sur dix, Paris, Seuil, 1989.
3. Numa exegese consagrada à L'Étranger de Camus, o crítico literário, Joël Malrieu, définiu a sociedade como sendo um espaço, com certeza, não físico mas socializado. Cf. Albert CAMUS, L'Étranger, Paris, Gallimard, 1996, collection Folio plus, p. 159.
4. Cf. José Joaquín Parra BANÓN, Pensamento Arquitectónico na obra de José Saramago, Lisboa, Editorial Caminho, Estudos de Língua Portuguesa, Janeiro de 2004, Capítulo III- Acerca Da Casa Habitada.
5. Cf. Ibidem, pp 96-102.
6. Cf. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão 16a edição, Lisboa, Editorial Caminho, 2004, pp. 21-22.
7. Cf. Ibidem, p. 22.
8. Cf. José Joaquín Parra BANÓN, Pensamento Arquitectónico na obra de José Saramago, op. cit., supra, (pp. 96-102).
9. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., p. 216.
10. Cf. José Joaquín Parra BANÓN, Pensamento Arquitectónico na obra de José Saramago, op. cit., supra, (pp. 96-102).
11. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., pp. 288-289.
12. Cf. Ibidem, p. 133.
13. Cf. Ibidem, p. 154
14. Cf. Ibidem, p. 250.
15. Cf. Vitor VIÇOSO, "Levantado do Chão e o romance neo-realista", in: Colóquio Letras, n° 151-152, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1999.
16. Cf. Frank KERMODE, The sense of an Ending, Oxford University Press, 1967.
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Resumo
Na narratologia clássica, a análise do tempo e a do espaço são inseparáveis. Muitas vezes, há uma forte correlação entre ambas. Os dois parámetros são muito importantes quando se tratar, por exemplo, em certos romances, de estudar um fenómeno como a exclusão social. É porquê sem os dissociar, estudámos sucessivamente o significado ideológico do espaço e do tempo em relação à questão da marginalização social em Levantado do Chão (1980) de José Saramago. Neste registo, convem notar que certas eras históricas assim como certas áreas geográficas são, segundo os casos, momentos ou lugares privilegiados de exclusão. São portanto essas conotações do espaço e do tempo que tentámos pôr em destaque neste estudo num andamento de vai-e-vem entre os instrumentos teóricos literários, linguísticos, sociológicos, ver até arquitectónicos e a nossa obra de referência - Levantado do Chão.
Palavras-chaves : Espaço, tempo, salazarismo, exclusão, luta de classes.
Le sens spatio-temporel de l'exclusion dans Levantado do Chão de José Saramago.
Résumé
Dans la narratologie classique, l'analyse du temps et celle de l'espace sont indissociables. Très souvent il y a une forte corrélation entre les deux. Les deux paramètres sont très importants quand il s'agit, par exemple, dans certains romans d'étudier un phénomène comme l'exclusion sociale. C'est pourquoi sans les dissocier nous avons étudié successivement la signification idéologique de l'espace et du temps par rapport à la question de la marginalisation sociale dans Levantado do Chão (1980) de José Saramago. Dans ce registre, il convient de noter que certaines ères historiques tout comme certaines aires géographiques sont, selon les cas, des moments ou des lieux propices d'exclusion. C'est donc ces connotations de l'espace et du temps attenant à l'exclusion que nous avons essayé de mettre en exergue dans cette étude dans une démarche de va-et-vient entre les instruments théoriques littéraires, linguistiques, sociologiques, voire architecturaux et notre uvre de référence Levantado do Chão.
Mots-clés : Espace, temps, salazarisme, exclusion, lutte de classes.
The spatio-temporal meaning of exclusion in Levantado do Chão by José Saramago
Abstract
In classical narratology, the analysis of time and space are inseparable. Very often there is a strong correlation between the two. Both parameters are very important when it comes, for example, in some novels to study a phenomenon like social exclusion. This is why, without dissociating them, we have successively studied the ideological significance of space and time in relation to the question of social marginalization in José Saramago's Levantado do Chão (1980). In this register, it should be noted that certain historical eras as well as certain geographical areas are, depending on the case, moments or places conducive to exclusion. It is therefore these connotations of space and time attached to exclusion that we have tried to highlight in this study, in a move back and forth between literary, linguistic, sociological, theoretical instruments, and even architectural and our reference work Levantado do Chão.
Keywords: Space, time, salazarism, exclusion, class struggle.
A problemática do tempo sobressai sem dúvida nenhuma da composição da narração. Há com efeito uma extensão da diégese avaliável em termos de número de linhas e páginas. Um narrador independentemente da sua natureza heterodiegética ou homodiegética, pode consagrar um comprimento variável de texto, isto é mais ou menos tempo, à narração de um facto. Em compensação, a narratologia clássica tem habitualmente tendência a excluir o estudo do espaço. Na opinão de Gérard Genette, o espaço é uma componente do conteúdo, entendamos por aí da história: não convem pois analizá-lo no quadro de um estudo da forma, isto é da narração. Aos teóricos da história é que incumbiria a tarefa de o abraçar. Ademais, do latim clássico excludere significando marginalizar, pôr na periferia, o vocábulo exclusão surgiu na França dos trinta anos gloriosos de desenvolvimento sob a pena de Pierre Massé na altura Secretário Geral do Plano. Todavia é a René Lenoir2 que se reconhecerá o uso da lexia exclusão nas ciências humanas e da audiência de que usufrui hoje em dia junto ao grande público.
Sabemos também que certas épocas históricas assim como certos espaços físicos e a problemática da exclusão são intimamente ligados. Mas é também verdade que na narratologia clássica, a análise do tempo e a do espaço são indissociáveis. Muitas vezes, há uma forte correlação entre as duas. Por exemplo, um espaço pode-nos ser apresentado numa época histórica particular (o latifundium sob a monarquia, a título de exemplo). E a descrição do espaço durante um dia ou uma hora na diégese pode fazer-se numa ou duas páginas (é o que chamamos tempo da narração). Sem perder de vista essas considerações relativas ao carácter indissociável do tempo e do espaço, uma outra exigência se impõe: a clareza do trabalho exposto. Na resolução de um problema de uma equação matemática a título de exemplo, especialistas optaram pela divisão do problema em unidades simples. A análise do espaço-tempo só por si numa exegese revela-se complexa. Quando a ela se junta uma noção polissémica como a exclusão, a tarefa do crítico torna-se uma vez ainda árdua. Todavia uma série de perguntas merece ser feita: qual é a dimensão ideológica do espaço e do tempo em Levantado do Chão; que aspectos, que modalidades revestem o espaço e o tempo relativamente à problemática da exclusão no nosso romance? A resposta a estas perguntas vai conduzir-nos no centro da nossa reflexão acerca da referida problemática.
Assim, sem querer dissociá-los explicitamente, estudaremos sucessivamente o sentido espacial e temporal da exclusão. Dissociaremos as duas análises quando isso se revela necessário e útil para a nossa demonstração. Juntaremos os dois conceitos num outro trabalho que poderá ser intitulado, por exemplo, "O espaço-tempo em Levantado do Chão" em sintonia com as exigências da crítica literária pois no presente capítulo vamos combinar subtilmente a análise literária e o procedimento do sociólogo, para ver até por momentos, como veremos a seguir quando se tratar de nos debruçarmos sobre o habitat do povo, o método do arquítecto.
1. O sentido espacial da exclusão
Por um lado, se no decorrer do tempo, ela adopta conotações sociais ou outras, a noção de exclusão fica na sua origem, intrinsecamente ligada à do espaço, sendo o espaço por si-próprio, por definição, "um espaço socializado"3.
Também o fenómeno de exclusão concebe-se como uma situação na margem em relação a um centro : a um centro se opõem portanto as periferias consideradas como área de predilecção da marginalização. É precisamente esse sentido da exclusão relativo ao espaço que vamos tentar demonstrar para avaliar a pertinência desta problemática no nosso romance.
Para as necessidades de um tal modo de proceder, vamos, num primeiro tempo, pôr em relevo a dimensão arquitectural da casa dos rurais caracterizada pela sua promiscuidade, ao mesmo tempo, símbolo da sua exclusão, a seguir a terra estrangeira como lugar de exclusão, e enfim, poremos a tónica sobre o universo carceral como topos de exclusão por excelência. Nesta análise da exclusão do rural por meio da promiscuidade do seu habitat, basear-nos-emos essencialmente nos trabalhos de um crítico, José Joaquín Parra Banón4, que, na nossa opinião, merecem uma menção particular. Inspirar-nos-emos portanto nos escritos deste especialista, para assentar a nossa própria argumentação. Para os devidos efeitos, interessar-nos-emos pela casa de dois casais de rurais : o primeiro simbolizando a primeira geração de operários agrícolas constituída por Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição ; o segundo incarnando a terceira geração formada por Manuel Espada e Gracinda Mau-Tempo.
A casa de Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição em São Cristovão é uma casa minúscula. Também convem assinalar que até hoje em dia, por numerosas que possam ser os cálculos, hipóteses e outras reflexões formulados a este respeito, ignoramos as mais pequenas dimensões que deve conter a arquitectura para que seja habitável. A este respeito, o especialista a que aludímos acima oferece-nos alguns exemplos dos Antigos que merecem reflexão :
"Como contou Platão nos dialógos, o cínico Diógenes, príncipe dos radicais, vivia num tonel sem queixar-se de falta de espaço ou de incomodidade; São Simão do deserto segundo afirmam os santorais, viveu parte da sua instável vida de pé sobre o capitel de uma coluna içável na deslocação das dunas; mas este, que não alcançou o título de mártir, em vez de viver queria santificar-se, não podendo ser, portanto, nem patrono do habitável nem a sua estância em equilíbrio sobre a terra modelo de resistência"5.
Ao analisarmos este trecho, é forçoso constatar que a casa de Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição sem ser tonel nem tenda, não respeita as normas de habitabilidade viável. A sua morada lembra o tempo medieval. Mal mereceria aliás a designação de "casa" pois o significado do vocábulo ultrapassa de longe o seu conteúdo. Pelo menos é esta a ideia que parece decorrer em filigrana deste trecho de Levantado do Chão : "Meteram por uma travessa onde as casas alternavam com quintais, e parou diante de um casinhoto baixo.É aqui, perguntou a mulher, e o marido respondeu, É"6.
Sobressai desta passagem a constatação de que a casa dos Mau-Tempo se caracteriza no que respeita à envergadura e ao tamanho pela sua pequenez, "Um casinhoto baixo" afirma o texto. Também o espaço nos é apresentado em função de um binarismo primário entre alto e baixo. Aqui, o alto simboliza as camadas privilegiadas e o baixo as periférias. Na base destas considerações, vemos portanto que, do ponto de vista da envergadura, o tamanho da casa desta primeira geração de rurais é um signo distintivo revelador da exclusão dos oprimidos de que o casal Mau-Tempo representa o arquétipo mais notável.
Para Parra Banón, um casinhoto não é um palácio se bem que tenha a chave grande para abrir uma pequena porta, que essa contradição das dimensões não é senão um entre os inúmeros contratempos dos Mau-Tempo como este que os espera consistente em se instalar numa casa velha e descobrir que ela é desprovida de janelas :
"Com a grande chave, Domingos Mau-Tempo abriu a porta. Para entrar, tiveram de curvar-se, isto não é nenhum palácio de altos portões. A casa não tinha janela. À esquerda era a chaminé, de lareira rente ao chão. Domingos Mau-Tempo petiscou lume, sobrou um punhado de palha e pôs-se a girar o fugaz archote para que a mulher visse a nova habitação. [...] A casa então ficou habitada"7.
Da análise deste trecho sobressai a ideia segundo a qual não só a casa desta primeira geração de camponeses é velha mas também é desprovida de electricidade; nem dispõe de lâmpadas visando iluminar os locais como a tradição impunha em certos castelos medievais. Mas no limiar deste estudo este investigador não afirmou e de boa fé : "Uma pocilga não é nenhum palácio de altos portões"8 ?
Também convem sublinhar que esta casa só é cozinha, a cozinha com uma chaminé e o chão é um inferno de chamas e o tecto e as paredes só servem para que o fogo não se apague. A casa é pequena e tem como único adorno uma porta aberta para a rua e uma outra para o pátio, ambas simples válvulas postas nas extremidades de uma trajectória que se dilata. Trata-se portanto de um espaço doméstico, um lar exíguo cujas características essenciais são a promiscuidade e a falta de higiene.
O casal formado por Manuel Espada e Gracinda Mau-Tempo simbolizando não só a terceira geração de rurais mas também a do despertar das consciências não foge da regra. Na opinião de Parra Banón, este casal viverá como os avós da noiva, numa outra casa alugada, também com este muito útil pátio para essas actividades, que, por serem íntimas e higiénicas, costumam fazer-se, quando o indivíduo se encontra sozinho, ao ar livre no caso de não haver outras dependências como continua a ser o caso, porque esta casa é também pequena:
"Tão pequena a casa, de renda [...] Moro por aí... nesta casa que é só parede e porta, uma divisão em baixo e outra em cima, uma escadinha que treme quando lhe ponho o pé, e o lume apagado quando estivermos ausentes. Vamos morar nesta encosta de Monte Lavre, dentro deste quintalito, não chega o espaço para levantar a enxada se quisermos cultivar nele um pé de couve, é verdade que se lhe dá o sol todo o dia, nem sei se vale a pena, não estamos gordos por isso"9.
A casa dos Espada é "Só parede e porta". Nesta casa desprovida de janela, o papel assumido pela porta é duplo. Não só servia de porta mas também de janela para favorecer a contemplação e o arejamento da casa. Frente à promiscuidade da casa do pobre, uma imagem proveniente de um outro universo - a dos Bertos, símbolo do centro -, é susceptível de ter efeitos negativos para a nossa sensibilidade de tal forma as clivagens são gritantes: a de casas senhoriais comparáveis com verdadeiros castelos e do luxo insolente.
A respeito desta casa dos Espada, José Joaquín Parra Banón parodiando no seu livro referido, um trecho de Levantado do Chão, estima:
"[ ] Tem a casa, para ampliar a superfície, uma divisão horizontal que parece ser algo assim como um entrepiso, um chão de madeira de parede a parede que faz do armário, uma estante útil para guardar as alfaias do campo. Um piso em baixo onde se vive e um piso suspenso sobre parte dele; há também uma escadinha fraca e tremelicante que diz ao visitante que a casa está em mau estado. É a casa um quintalito com uma porta descoberta que metaforicamente, poderia chamar-se horta, ou pátio se coubesse uma enxada, ou jardim se for entendido como vaso; qualquer que seja o nome, poço ou respiradouro, o buraco está bem orientado, virado ao sul; mas a orientação é subsidiária de maiores interesses na pobreza, do comer por exemplo, pois a soalheira é um bem que não alimenta, um prazer de que desfruta quem descansa e que temem, no meio dos campos às quarto da tarde e nas casas, os trabalhadores agrícolas e suas famílias. Sobra sol a esta casa, sendo tantas outras as suas carências"10.
Esta descrição pormenorizada da casa dos Espada põe em destaque um universo de pauperismo, ele próprio revelador da exclusão pois o desenvolvimento contemporâneo das cidades tanto nos países do Sul como nos do Norte desvendou um fenómeno de concentração, agrupamento, densificação e guetorização dos desfavorecidos em bairros periféricos e casas insalubres e caracterizadas pela sua exiguidade.
Também põe esta descrição a tónica particularmente sobre elementos internos da casa do que sobre os externos. Esta tónica posta na descrição de espaços internos pela autoridade enunciativa não é inocente. Visa traduzir para além dos determinismos de carácter adventício dos factores climáticos, sociológicos e das condições socio-económicas, a exclusão é antes de tudo um fenómeno endógeno que se vive no mais fundo de cada um de nós. Mais do que os constrangimentos exercidos pelos outros, nós próprios é que nos excluímos do macrocosmos social. Deste jeito, o fenómeno de exclusão que afecta o sujeito não é sofrido mas desejado.
Depois vem a exclusão pela terra estrangeira. O estrangeiro simboliza o desconhecido. Suscita o medo. A esmagadora maioria da gente tem tendência para ligar o medo à ideia de fealdade. Mas é também comumente admitido que a beleza pode gerar o terror puro no caso de ela ser ligada à de desconhecido. A terra estrangeira reifica o viajante reforçando ao mesmo tempo o seu sentimento de exclusão. Aos constrangimentos exercidos pela geografia e o meio físico sobre o forasteiro acrescenta-se a hostilidade de certos autóctones com eflúvios xenófobos. Explicitemos estas considerações. Com efeito, o meio natural exerce determinismos negativos sobre os trabalhadores pobres no romance neo-realista. Na terra estrangeira, essas influências negativas tornam-se ainda mais pungentes. Era portanto o caso das influências negativas do espaço físico sobre os jovens operários agrícolas António Mau-Tempo, Carolina da Avó e o seu amigo espanhol Miguel Hernandez em França sobre os quais vamos nos debruçar nos parágrafos a seguir.
Durante os períodos favoráveis da vida nacional, tem-se o hábito de atribuir esse sucesso ao mérito de nacionais excluindo o estrangeiro. Mas assim que os negócios públicos não funcionem correctamente e se encontrem confinados num beco sem saída, temos o hábito de encontrar bodes emissários e muito frequentemente o primeiro incriminado é o forasteiro. É neste registo que convem inscrever a exclusão de António Mau-Tempo, de Carolino da Avó de Monte Lavre e do seu amigo Espanhol Miguel Hernandez de Fuente Palmera, estes três jovens, ao concordarmos com a autoridade enunciativa, foram trabalhar como operários agrícolas no nível dos campos normandos à procura de uma moeda forte. Mas a sua exclusão é posta em evidência pelas alegações das prostitutas que consideram todos os estrangeiros, inclusive os ibéricos, como negros. Mas através desta atitude é um piscar de olho que Saramago parece dirigir a esta outra parte da Europa pois as pretendidas considerações emanam de personagens de costumes duvidosos. A isso se acrescenta a opressão tradicional pela terra estrangeira:
"E a França, que é. A França é um campo infindo de beterrabas em que a binar se trabalha dezasseis ou dezassete horas por dia, é um modo de dizer, porque, sendo tantas, são todas as do dia e não poucas da noite. A França é uma família de normandos que vê entrar-lhe pela porta dentro três bichos ibéricos, dois portugueses e um espanhol da Andaluzia, mais explicadamente António Mau-Tempo e Carolino da Avó, de Monte Lavre, e Miguel Hernandez, de Fuente Palmera, este sabe suas palavras de francês, ciência de emigrante, e com elas diz que estão ali os três de contrato. A França é um palheiro de pouco resguardo para o pouco dormir e um prato de batatas, é uma terra onde misteriosamente não há domingos nem dias santos. A França é um derreamento de rins, duas facas espetadas aqui e aqui, uma aflição de cruzes martirizadas, uma crucificação num bocado de chão. [...] A França é este desprezo, este falar e olhar em modo de mangação"11.
Colocadas no seu contexto, essas considerações, tomando em conta o papel assumido pelo escritor na sociedade, não passam de meras alegações visando desanimar os candidatos à emigração pois, ainda em 1980, data de publicação de Levantado do Chão, Portugal ainda não aderiu à comunidade europeia e uma emigração massiva esvaziava os campos portugueses das suas forças vivas.
É igualmente na mesma ordem de ideias que convem inscrever o envio massivo de opositores, vagabundos, contrabandistas, delinquentes e outros vigaristas para as colónias. O caso de José Gato é um exemplo significativo. Este bandido descarado e a sua malta dificultaram o trabalho da administração. Matou, roubou o rico e menosprezou as leis da República. Para proteger o pobre, não hesitou em despossessar o rico dos seus bens. Essa situação muito cedo o colocou numa situação conflituosa com a polícia e a Guarda Nacional Republicana do seu país.
Apesar das inúmeras tentativas de aprisionamento - e não faltaram -, conseguiu, por vezes, mercê cumplicidades ao mais alto nível da escala social, escapar das armadilhas postas pela justiça. A vida caracteriza-se pela sua transitoriedade e cada coisa tem um fim marcado. E um dia, ao passar por intensos momentos de alegria com a eleita do seu coração, se calhar denunciado, José Gato foi preso. Desta vez, a esperteza e a inteligência não serviram para nada. Foi o fim de um episódio movimentado da vida do latifúndio, pelo menos do ponto de vista dos privilegiados do Estado, e para os rurais a perda de um parceiro capital pois com este aprisionamento desvaneciam as esperanças de libertação dos opositores políticos presos. Nesse dia, o destino de José Gato teve um rumo decretado: será enviado para as colónias. Ouviu-se dizer de boca em boca que, lá, foi promovido a cabo da segurança. Outras línguas afirmaram que foi lá morto:
"O José Gato é que só foi preso uns tempos depois, em Vendas Novas. Estava amantizado com uma mulher que vendia ali hortaliça e andava sempre disfarçado, por isso os guardas nunca o pilhavam, há quem diga que foi ela quem a denunciou, que isso eu não sei. Foi preso em casa da amante, num sotão, quando dormia, ainda disse, Se não o apanham a dormir, podem ter a certeza que não era desta. Depois falou-se que o levaram para Lisboa, e, assim como empregaram todos os outros por conta dos lavradores, disseram que o José Gato tinha ido para as colónias como agente da polícia de vigilância e defesa do estado. Não sei se ele aceitaria, custa-me a crer, ou se o mataram e deram essa desculpa, outros casos se têm visto, não sei"12.
Com toda a evidência, uma coisa é contudo segura, é que o exílio nas colónias não é uma promoção, é a forma mais conseguida da exclusão. A distância aniquila os sentimentos. A este determinismo da distância acrescenta-se a tradicional opressão pelo meio físico muito frequentemente hóstil ao estrangeiro: na verdade a terra estrangeira aliena o viajante e acentua nele o sentimento de solidão e de exclusão. Muitas vezes o estrangeiro sente-se ali nas extremidades do mundo ferozmente isolado.
Neste estudo da exclusão, na sua relação com a geografia, a prisão é verdadeiramente o ponto culminante. Ela simboliza o espaço de exclusão por excelência. Na sua génese consiste em isolar, intra muros, indivíduos perigosos para a sociedade. Vejamos concretamente, a este respeito, as informações que o material do nosso trabalho é de natureza a nos proporcionar.
A prisão constitui, com efeito, o clímax da coisificação do rural. Atestam disso as condições desumanas de detenção de Sigismundo Canastro, João Mau-Tempo e Manuel Espada dados como cérebros da insurreição a favor de um aumento do ordenado horário: O tecto do casarão é baixo, tem quase rente uma lâmpada eléctrica, só uma, vinte e cinco velas, não mais, ainda não deixámos os hábitos de poupar, e afinal o calor é insuportável, quem disse o contrário"13.
É no mesmo registo que convem inscrever o suplício físico e moral sofrido pelos presos. O caso de João Mau-Tempo é um exemplo surpreendente:
"João Mau-Tempo vai fazer setenta e duas horas de estátua. Vão-se-lhe inchar as pernas, terá vertigens, sera espancada com régua e com o cacete, sem muita força, mas para aleijar, de cada vez que as pernas cederem. Não chorava, mas tinha lágrimas, até uma pedra teria piedade[...], era outra das suas verdades"14.
Algures uma pergunta merece ser feita: qual é o significado ideológico do tempo relativamente à problemática da marginalização social no nosso romance?
2. A dimensão temporal da exclusão
Noutra parte, uma outra acepção da exclusão e não dos menores, em Levantado do Chão, é a relação entretida pelo tempo e o fenómeno de exclusão das personagens deste romance. Convem, logo de entrada, distinguir duas componentes dessa noção polissémica do tempo: o tempo físico e o tempo narrativo. As páginas deste estudo que antecederam consistiram em situar a noção de centro na História e no romance e ocultaram - pois não sendo o seu propósito - o lugar das periferias, a exclusão destas. Falar em poética equivale conduzir uma reflexão acerca do espaço, o tempo, o enredo, os actores da narração. Neste título, depois de nos debruçarmos sobre o sentido espacial da exclusão, o nosso estudo ficaria incompleto se não tivesse abrangido a dimensão temporal dessa problemática; as partes seguintes deste trabalho encarregando-se estudar o lugar da instância narradora e os actores da narração nessa prosa romanesca.
Debruçar-se sobre a ordem temporal de uma narração, consiste em estabelecer um paralelismo entre a ordem de disposição dessas situações ou fracções temporais no discurso narrativo e a ordem de sucessão dessas mesmas situações ou segmentos temporais na história, sendo esta claramente mencionada na própria narração e que se está capaz dela extrair tal ou tal sinal alusivo. É claro que tal reedificação não é sempre na ordem do possível e que se torna fútil para certas obras-limites como os romances de Robbe-Grillet, em que "a referência temporal" se encontra intencionalmente desviada. É também inteiramente verdade, pelo contrário, que na narração tradicional, não só é frequentemente realizável, porque a narração nunca inverte a ordem de sucessão dos eventos sem o dizer explicitamente, mas também essencial; e exactamente pelo mesmo motivo: quando uma sequência narrativa começa por notações tais como "três meses mais cedo, etc.", é preciso tomar em consideração o facto de que essa sequência vem depois, e que é presumida ser aparecida antes na diégese: um ou outro, ou para melhor dizer, a correlação (de contradição, ou de dissonância) entre um e outro, é fundamental para o texto narrativo, e ocultar essa correlação ao excluir um desses vocábulos, é ser infiel ao texto, é simplesmente o mandar ad patres. (Cf. Gérard Genette, 1972).
Como o sugere Eugénio Lisboa, aos erros recurrentes convem trazer as correcções repetidas, consistirá a nossa tarefa em estudar a exclusão, primeiro, pelo meio do tempo físico e, depois, pelo tempo narrativo.
Também convem precisar que, neste romance, Saramago confere uma atenção singular ao tempo. A visão que Levantado do Chão nos oferece do tempo é, na nossa opinião, mais problemática do que a do espaço. À uniformidade do espaço fundamentalmente constituído pelo latifúndio - ou o Alentejo - se opõem a multiplicidade e a polissemia dos diferentes episódios da História nacional e do enredo.
Do mesmo modo convem afirmar que, se podemos escapar do espaço, é muito difícil, até impossível evitar os determinismos do tempo. A percepção do tempo que José Saramago frisa nesta metaficção historiográfica é ao mesmo tempo realista e subjectiva. A análise do tempo em Levantado do Chão leva a uma constatação: a divisão deste em duas componentes: um tempo físico e um tempo narrativo.
Para dar conta dessa problemática, voltemos às referidas considerações de Gérard Genette. Contrariamente aos ditos romances de Robbe Grillet em que "la référence temporelle se trouve à dessein pervertie", vemos que a ordem de sucessão temporal em Levantado do Chão obedece à da narração clássica. Isto é que a narração não atormenta a ordem temporal de propósito sem previamente avisar o leitor com expressões tais como "autrefois", "jadis" e fazendo abstracção do seu carácter iterativo "quelques fois" características da analepse ou "des années plus tard", "trois mois après" características das prolepses. Entre as duas existem anacronias, um grau zero da escrita onde os dois elementos (tempo da história e pseudo-tempo da narração) se confundem.
Sabemos que o romance Levantado do Chão começa por uma descrição da paisagem do latifúndio que nos remete ao século XVI. Para nos convencermos disso, basta simplesmente aludirmos ao trecho seguinte: "O que mais há na terra é paisagem [...], quem duvidará de que assim vai ficar até a consumição dos séculos" (LC, pp. 11-14). É pois o ponto de partida da diégese.
Durante quatro gerações de Mau-tempo, a autoridade responsável pela narração retraçará o percurso de exclusão dos rurais até ao advento da justiça social com a geração de Maria Adelaide Espada. Para pôr em evidência a ordem de sucessão temporal, examinemos o trecho seguinte:
"Já de vontade não fora aquela outra rapariga, quase quinhentos anos antes, que estando um dia sozinha na fonte a encher a infusa, viu chegar um daqueles estrangeiros que viera com Lamberto Horques Alemão, alcaide-mor de Monte Lavre por mercê do rei Dom João o primeiro, gente de falar desentendido, e que, desatendo aos gritos e rogos da donzela, a levou para uma espessura de fetos onde, a seu prazer, a forçou. Era um galhardo homem de pele branca e olhos azuis, que não tinha outra culpa que o atiçado do sangue, mas ela não foi capaz de lhe querer bem e sozinha pariu como pode ao fim do tempo. Assim, durante quatro séculos estes olhos azuis vindos da Germânia apareceram e desapareceram tal como os cometas que se perdem no caminho e regressam quando com eles já não conta, ou simplesmente porque ninguém cuidou de registar as passagens e descobrir a sua regularidade"(LC, p. 24).
Este trecho diz respeito à génese dos Mau-Tempo que, como o apelido (Mau-Tempo) o indica, prediz um futuro difícil para as três gerações dessa família rural.
Há um primeiro segmento narrativo ("Já de vontade não fora aquela outra rapariga, quase quinhentos anos antes, que estando um dia sozinha na fonte a encher a infusa, viu chegar um daqueles estrangeiros que viera com Lamberto Horques Alemão, alcaide-mor de Monte Lavre por mercê do rei Dom João o primeiro, gente de falar desentendido, e que, desatendo aos gritos e rogos da donzela, a levou para uma espessura de fetos onde, a seu prazer, a forçou"). Chamemos este primeiro segmento A. Há em A duas referências temporais essenciais: "quase quinhentos anos antes" e a alusão à época do "rei Dom João o primeiro".
O segundo segmento é o seguinte: "Era um galhardo homem de pele branca e olhos azuis, que não tinha outra culpa que o atiçado do sangue, mas ela não foi capaz de lhe querer bem e sozinha pariu como pode ao fim do tempo." Chamemos este segmento B. Há uma referência temporal"ao fim do tempo."
Enfim o último segmento narrativo é o seguinte: Assim, durante quatro séculos estes olhos azuis vindos da Germânia apareceram e desapareceram tal como os cometas que se perdem no caminho e regressam quando com eles já não conta, ou simplesmente porque ninguém cuidou de registar as passagens e descobrir a sua regularidade". Chamemos este segmento C. Há duas referências temporais em C: "durante quatro séculos" e "quando". Trata-se de uma espécie de prolepse.
Completemos a nossa análise! No segmento A, a referência temporal "quase quinhentos anos antes" constituí a data da violação da donzela antepassada dos Mau-Tempo. Mas quer também dizer que os eventos contados aparecem antes do que a instância narradora está a contar na diégese. "Na época do rei Dom João o primeiro" vem acrescentar uma precisão à época referida. Com esta perifrase, sabemos daí para diante que são quinhentos anos mais cedo, na época de Dom João o primeiro que a referida donzela foi violentada. Trata-se do início do fenómeno de exclusão dos rurais. No segmento B, a referência temporal "ao fim do tempo" proporcia-nos informações respeitantes ao fim da pregnância da antepassada dos Mau-Tempo.
E enfim no segmento C, "durante quatro séculos" e "quando" dá-nos informações acerca da duração do fenómeno de exclusão dos rurais (quatro séculos) ou seja da regência de Dom João 1° no século XVI até ao século XX, e mais precisamente em 1980, seja seis anos depois da revolução dos cravos). Mas sobretudo a referência temporal "durante quatro séculos" parece dizer-nos que os eventos relatados vêm depois do que o narrador está a contar. Trata-se de um durativo com valor de prolepse pois há um desenrolar do presente para o futuro.
Consideremos O o ponto de partida da diégese. Temos desde então a configuração seguinte:
O→A→B→C
A não ser o movimento retrospectivo de O para A, não há ziguezagues, temos antes pelo contrário uma certa linearidade dos acontecimentos contados parecida com a linearidade do signo linguístico mais fácil de evacuar na teoria do que na prática.
Também numa parte certas referências temporais parecem nítidas: a época da monarquia, a primeira República, a ditadura militar, o Estado Novo, a transição caetanista, o período pós-revolução dos cravos ou as alusões de ordem estacional: "Outono", "Inverno", "Primavera", "Verão".
Nesta perspectiva, convem notar que embora seja dificilmente classificável nas correntes literárias notórias da sua época, Saramago admite todavia a influência do Neo-Realismo literário pelo menos em Levantado do Chão15.
Ora o desfile das quatro estações do ano (Outono, Primavera, Inverno e Verão) é uma opção ideológica fundamental do Neo-Realismo. Visa caracterizar a transformação das situações sociais.
Por causa do mau tempo que trazem, o Inverno, o Outono, e por vezes os verões chuvosos e de trovoada são momentos privilegiados de exclusão.
Noutra parte, certas referências temporais são turvas. É o que notamos por via das prolepses observadas em certos episódios do enredo. Estas visões para diante, em particular, a do fim do romance, depois da resurreição dos mortos parecem mais provir duma visão escatológica do devir das civilizações do que de experiências vividas pelo ficcionista. Contudo, por ser turva, esta prolepse não passa de um medium que permite aos proletários eliminar os demônios da exclusão. De facto o seu advento coincide com o surto da justiça social.
No que diz respeito ao tempo narrativo, convem assinalar que, para estruturar a ideologia do seu romance, Saramago incorporou na sua obra de ficção factos herdados da História nacional. Neste título, História e ficção são indissociáveis. Entenderemos pois por tempo narrativo tanto os episódios da história como o tempo da narração: imperfeito, presente gnómico e futuro.
A história entendida ao mesmo tempo como History (história no mundo referencial) e narração ficcional (story) do latifundium é uma história de exclusão, pelo menos se acreditarmos nos dizeres da instância narrativa em Levantado do Chão. A monarquia tinha os seus filhos, os seus acólitos, os seus protegidos - senhores, barões, duques, duquesas e outros condes e condessas - e excluía tudo quanto não fosse idêntico a esse nós primordial (camponeses, vigaristas e outros parentes pobres do reino).
Tanto a primeira República como o salazarismo, passando pela ditadura militar, tinham os seus favoritos e os seus excluídos.
Portugal do amanhecer imediato da revolução não fugirá da regra: ao quererem suprimir as desigualdades sociais, diante da complexidade da tarefa, as elites políticas deveram resolver-se sacrificar partes importantes da sociedade em prol da paz social, de um crescimento cuidado e de uma vontade sem cessar reafirmada em integrar a comunidade europeia. Só o "presente" da clausura do romance em que os mortos e os vivos se encontram, depois da Revolução, é um oásis de justiça no vasto deserto da História.
Essa última (a clausura do texto) é-nos apresentada sob uma forma apocalíptica. Ao ver de Kermode16, no apocalipse é preciso tomar em consideração dois aspectos. Numa parte, mentalmente se procede à harmonização do passado, recuperado pela memória, com o futuro que é predito. Ora quem disser fim - e fim para a humanidade e o planeta - diz terror, medo, dissolução. Por outro lado, esse fim será todavia o advento de uma nova humanidade. Quais são as lições que podemos tirar da exégese bíblica a este respeito?
Concordemos em dizer que o último livro da revelação para os cristãos - porque Saramago convoca frequentemente este livro em Levantado do Chão - prediz severas sanções contra os descrentes. Mas anuncia também o início de tempos novos.
À maneira do nebuloso tempo das origens da abertura de Levantado do Chão, o fim do século em Portugal (1980) que o romance representa é também um momento de renascimento, de transformação, conclusões e de começos. Quanto a este aspecto da questão os últimos capítulos de Levantado do Chão são extremamente elucidativos. A este título, o penúltimo capítulo fala dos terrores e das tentativas de escapismo dos latifundiários. As falas de Dona Clemência são a este respeito edificantes: " , estava-me reservado esta provação, ver a terra de meus avós nas mãos destes ladrões, é o fim do mundo quando se ataca a propriedade, alicerce divino e profano da nossa civilização..."(p. 361, LC).
Nessas linhas finais do livro, o leitor intrigado vê Lamberto queixar-se junto ao cabo Tacabo por alusão a esses "acontecimentos apocalípticos".
Em função dos objectivos enunciados na nossa introdução e na base da análise da obra Levantado do Chão de José Saramago, convem dizer que a instância autorial tentou pintar um universo de exclusão na sua tentativa de denunciar os abusos do salazarismo (e mais tarde do caetanismo). Esse regime político plutocrático favorecia, como vimos, as elites políticas, religiosas, económicas ou culturais em detrimento da esmagadora maioria da população (o proletariado agrícola). Esse antagonismo de classes é bem evidente em Levantado do Chão e transparece explicita ou implicitamente através da análise do espaço e do tempo na sua relação com a problemática da exclusão (que fica uma das preocupações maiores do romancista nesta obra publicada sugestivamente em 1980, ou seja 6 anos depois da Revolução dos Cravos).
Por um lado, em Levantado do Chão, o estudo do espaço visa pôr em destaque o fenómeno da exclusão das classes pobres. Por exemplo, as moradas dos proletários rurais são pequenas, caracterizadas pela promiscuidade e a falta de higiene ao passo que as dos latifundiários são luxuosas e grandes. Também o meio físico (prisão, a terra estrangeira) ou a natureza são geralmente hostis aos camponeses pobres pois accentuam o seu fenómeno de exclusão na medida em que estes se encontram já em condições materiais bastante difíceis.
Por outro lado, o tempo (seja ele físico ou narrativo) põe também em relevo a marginalização da esmagadora maioria da população (os trabalhadores rurais) por uma pequena minoria (os ricos latifundiários), isso do século XVI até o surto das primeiras luzes democráticas ocorridas com a Revolução dos Cravos do 25 de Abril de 1974. Assim convem dizer que a monarquia tinha os seus acólitos, os seus protegidos (barrões, duques e duquesas) e excluía tudo quanto não fosse idêntico a este Nós primordial (trabalhadores pobres, vigaristas, contrabandistas, bêbedos - o caso Domingos Mau-Tempo - e outros parentes pobres do reino). A primeira República, o Salazarismo, a transição caetanista, a época pós-revolucionária também não fugiram da regra.
Vimos pois que o estudo do espaço e do tempo na sua relação com a problemática da exclusão constituí uma das preocupações indesmentíveis do autor José Saramago em Levantado do Chão.
Desta maneira, as reflexões assim apresentadas devem ser consideradas como uma contribuição e não como uma tentativa não confessada consistente em confinar numa definição limitadora a heterogeneidade e a diversidade da produção ficcional de Saramago acerca da referida problemática neste romance.
Uma vez imaginada a dimensão espacio-temporal da exclusão, podemos, por exemplo, situar a parte de responsabilidade que incumbe às instituições, por um lado, e aos indivíduos eles próprios, por outro lado, nesse percurso de exclusão dos rurais do Latifundium. Mas na verdade, isso pode constituir o ponto de partida da redação de um outro artigo.
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Notes :
1. O Doutor Mahamadou DIAKHITE é "Maître de Conférences Assimilé" no Departamento de Línguas e Civilizações Românicas da Universidade Cheikh Anta Diop de Dacar.
2. Cf. Referimo-nos ao livro magistral seguinte : René LENOIR, Les Exclus : un Français sur dix, Paris, Seuil, 1989.
3. Numa exegese consagrada à L'Étranger de Camus, o crítico literário, Joël Malrieu, définiu a sociedade como sendo um espaço, com certeza, não físico mas socializado. Cf. Albert CAMUS, L'Étranger, Paris, Gallimard, 1996, collection Folio plus, p. 159.
4. Cf. José Joaquín Parra BANÓN, Pensamento Arquitectónico na obra de José Saramago, Lisboa, Editorial Caminho, Estudos de Língua Portuguesa, Janeiro de 2004, Capítulo III- Acerca Da Casa Habitada.
5. Cf. Ibidem, pp 96-102.
6. Cf. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão 16a edição, Lisboa, Editorial Caminho, 2004, pp. 21-22.
7. Cf. Ibidem, p. 22.
8. Cf. José Joaquín Parra BANÓN, Pensamento Arquitectónico na obra de José Saramago, op. cit., supra, (pp. 96-102).
9. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., p. 216.
10. Cf. José Joaquín Parra BANÓN, Pensamento Arquitectónico na obra de José Saramago, op. cit., supra, (pp. 96-102).
11. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., pp. 288-289.
12. Cf. Ibidem, p. 133.
13. Cf. Ibidem, p. 154
14. Cf. Ibidem, p. 250.
15. Cf. Vitor VIÇOSO, "Levantado do Chão e o romance neo-realista", in: Colóquio Letras, n° 151-152, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1999.
16. Cf. Frank KERMODE, The sense of an Ending, Oxford University Press, 1967.
Condition de la femme et exclusion dans Levantado do Chao</em></em> de José Saramago
Condition de la femme et exclusion dans Levantado do Chão de José Saramago
M. Diakhité1
Résumé
Le roman Levantado do Chão (1980) de José Saramago peut être considéré comme un prolongement intéressant du néo-réalisme au Portugal ; un mouvement littéraire se proposant de dénoncer les abus du régime dictatorial imposé par le Docteur António de Oliveira Salazar et son dauphin Marcelo Caetano. Ce régime élitiste avait fait de l'agriculture un des fers de lance de sa politique économique. Toutefois les terres arables étaient détenues par une infime minorité (les latifundiaires) qui exploitaient l'écrasante majorité (le prolétariat agricole). Sous un tel régime marqué par la lutte de classes, la femme (bourgeoise ou prolétaire) y est doublement exclue du fait des conditions matérielles ou d'une doctrine patriarcale séculaire. Ainsi allons-nous voir dans un premier temps les conditions de vie de la femme bourgeoise, ensuite en un second lieu le calvaire de la femme prolétaire et enfin la génération révolutionnaire avec Maria Adelaide Espada dans une démarche de va-et-vient entre les instruments théoriques littéraires, linguistiques, sociologiques et notre uvre de référence (LC).
Mots-clés : Salazarisme, condition féminine, patriarcat, classes sociales, révolution.
Condition of the Woman and Exclusion in Levantado do Chao de Jose Saramago
Abstract
The novel of Levantado do Chao (1989) can be considered as an interesting extension of neo-realism in Portugal; a literary movement proposing to denounce the abuses of the dictatorial regime imposed by Dr. Antonio de Oliveira Salazar and his dolphin Marcelo Caetano. This elitist regime had made agriculture one of the spearheads of its economic policy. However, arable lands were owned by a tiny minority (the latifundaries) who were exploiting the overwhelming majority (the agricultural proletariat). Under such a regime marked by the class struggle, the woman (bourgeois or proletarian) is doubly excluded from it because of material conditions or a patriarchal secular doctrine. So we will first see the conditions of life of the bourgeois woman, then in a second place the ordeal of the proletarian woman and finally the revolutionary generation with Maria Adelaide Espada in a process of going back and forth between the theoretical, literary, linguistic, sociological instruments and our reference work (LC).
Key-Words: Salazarism, status of women, patriarchy, social classes, revolution
Le roman Levantado do Chão de José Saramago peut être considéré comme un prolongement intéressant du néo-réalisme portugais si l'on en croit Vitor Viçoso. Or le néo-réalisme est un courant de pensée littéraire d'inspiration marxiste-léniniste qui conteste et dénonce les abus du système de domination politique imposé par le Salazarisme. En outre il prend parti pour la cause des couches défavorisées de la société (notamment le prolétariat) qui doit mettre un terme provisoire au diktat imposé par la bourgeoisie et cela par le biais de la Révolution. Le Portugal, à l'image de bien d'autres pays européens et de la péninsule ibérique en particulier, est un pays à la tradition patriarcale bien ancrée. Livre de la terre, Levantado do Chão de José Saramago se propose de dénoncer l'exploitation du prolétariat rural par les riches latifundiaires.
Or nous verrons que la société portugaise sous le régime dictatorial de l'État Nouveau est une société foncièrement agricole avec deux grandes subdivisions. Le Nord (zone du minifundium - la petite propriété agricole) et le Sud - zone de prédilection de la grande propriété agricole (le latifundium) détenu par une infime minorité de la population qui exploite la grande majorité. A cause de la rareté et de l'exiguïté des terres dans le Nord, les paysans du Nord migrent vers le Sud où il y a donc de vastes terres arables mais où ils seront implacablement exploités par les riches latifundiaires.
Dans un système social où tout le prolétariat rural est exploité, l'exclusion de la femme prolétaire y est plus accusée. La bourgeoise du fait d'une situation financière avantageuse présente une autre forme d'exclusion se rapportant plus à l'univers des sentiments qu'à la pauvreté. Toutefois au terme d'un long et douloureux processus de prise de conscience et de maturité idéologique, c'est la femme prolétaire qui sera au cur de toutes les luttes qui aboutiront finalement à la justice sociale (aboutissement du raisonnement de l'auteur dans l'uvre) par le biais de la révolution.
Face à la pertinence du sujet, une série de questions s'impose : comment l'exclusion de la femme apparaît-elle dans Levantado do Chão ? Quelles en sont les spécificités ? Quels aspects, quelles modalités revêt l'exclusion de la femme dans Levantado do Chão selon que celle-ci appartient à la bourgeoisie ou au prolétariat rural ?
Y a-t-il des figures féminines qui échappent à l'ordinaire et s'inscrivent dans une dynamique de changement ?
La réponse à ces questions, ultime étape de notre argumentation, nous conduira au cur de notre réflexion relative au rapport existant entre la condition féminine et la problématique de l'exclusion dans le roman.
Il va s'agir d'étudier dans un premier temps la vie dans le gotha bourgeois, ensuite le supplice de la femme rurale et enfin la figure féminine consciente et émancipée Maria Adelaide Espada.
1. L'existence dans le gotha bourgeois
L'exclusion n'est pas un phénomène qui touche exclusivement la femme prolétaire. Elle affecte également sa congénère bourgeoise. Celle-ci est représentée fondamentalement par deux personnages : Maria Graniza et Dona Clemência. Il y a également la figure de Cesaltina, la femme de Ourique. Celle-ci apparaît dans la scène d'assassinat de Germano Santos Vidigal par les dragons de la PIDE. Mais sa contribution ou positive ou négative dans la quête politique qui meut le prolétariat rural n'est pas explicitement mise en évidence dans Levantado do Chão. C'est pourquoi elle fait figure de personnage secondaire n'ayant pas un impact significatif dans l'évolution de la trame du roman. Celui-ci est un roman à thèse selon une définition proposée par Susan Suleiman2. Ce qui fait que pour étudier l'existence de la femme dans le gotha bourgeois nous nous limiterons à l'étude des deux premières figures féminines (Maria Graniza et Dona Clemência). Il convient de dire que le mot gotha est le contraire de ghetto. Certes le gotha apparaît comme un lieu de confinement au luxe et au confort matériel mais la femme bourgeoise s'y ennuie du fait de l'oisiveté et du fait d'une vie caractérisée par la monotonie et la routine. Sur le plan de la libido sciendi, elle paraît d'ailleurs moins épanouie que la femme prolétaire. A l'opposé de Dona Clemência, Maria Graniza exerce une activité professionnelle : elle est une figure féminine appartenant à la bourgeoisie mercantile. Si elle s'ennuie du fait de la petitesse en terme numérique des membres de sa classe sociale (la bourgeoisie) mais également eu égard au fait qu'on ne lui connaît pas un mari (sa vie libidinale n'est pas explicitement mise en évidence). On ne sait pas non plus si elle a des enfants. Au demeurant l'on peut affirmer sans risque de se tromper que si Maria Graniza est affranchie des contraintes de la nécessité, elle semble toutefois exclue de ce qu'il y a de plus fondamental, si l'on en croit Sigmund Freud, la vie amoureuse, voire plus amplement sociale. Aussi une question mérite-t-elle d'être posée : "qu'en est-il exactement de Dona Clemência ?".
A ce propos il convient d'affirmer que si la femme bourgeoise n'est pas actrice des prises de décisions importantes concernant la vie publique ou la sphère économique, elle trouve toutefois une compensation de son exclusion à travers les actions philanthropiques qu'elle entreprend. Ainsi à cause de ses actions caritatives Dona Clemência trouve, à travers le Père Agamedes, un interlocuteur de choix susceptible de la faire sortir de la solitude des tâches ménagères à laquelle la femme est très souvent confinée et cela eu égard à la constatation que solitude et exclusion entretiennent un rapport étroit. Très souvent l'une s'érige en cause ou effet de l'autre. Dès lors, une question s'impose : comment une telle donne se prête-t-elle à l'analyse chez Dona Clemência, la figure féminine et "maîtresse de céans" du domaine des latifundiaires ?
Il convient de signaler que si le narrateur désigne les femmes issues du monde rural par leur nom, force est de souligner toutefois qu'il désigne cette figure féminine au moyen de la formule de politesse Dona (Clemência). Cette forme de traitement imprime la marque d'appartenance de cette figure féminine à la classe bourgeoise.
Cette onomastique Clemência semble d'ailleurs ironique tant elle s'inscrit en faux avec les agissements de ce membre influent de la classe bourgeoise : Dona Clemência.
De toutes les apparitions en texte de ce personnage féminin, une mérite une mention particulière tant elle nous édifie sur les méthodes et l'hypocrisie de cet élément central de la classe bourgeoise : la scène de distribution de l'aumône aux enfants des ruraux.
Importante est la mise en évidence du portrait moral de ce personnage quand on sait l'importance capitale que revêt la femme dans le parcours romanesque de José Saramago.
Aux pages 187 et 188 du roman3, on la voit généreusement offrir de l'aumône aux enfants des ruraux. A première vue, tout porte à croire qu'il s'agit bel et bien d'actions charitables. Mais quiconque se limiterait à une telle conclusion n'aurait fait qu'une analyse au premier degré, voire partielle et incomplète des élans faussement charitables de cette figure féminine bourgeoise. Expliquons-nous !
De fait, l'histoire de toute société depuis des temps immémoriaux à nos jours est celle de la lutte de classes : seigneurs féodaux et serfs, patriciens et plébéiens, hommes libres et esclaves et plus près de nous, à l'époque contemporaine, bourgeois et prolétaires. Et tout au long de ces divers âges historiques - de l'Antiquité classique aux temps modernes -, pour maintenir, légitimer et faire excuser sa suprématie, la classe dominante n'a guère cessé d'uvrer dans le sens que la classe dominée puisse au moins s'assurer les moyens de subsistance nécessaires à sa survie. Cette démarche semble s'inscrire dans la perspective de la dialectique du maître et de l'esclave héritée de la philosophie marxiste-léniniste. Aussi insignifiant soit l'esclave, le maître a besoin de lui. Le maître ne peut pas laisser mourir l'esclave car il a besoin de celui-ci pour assurer sa propre survie. Laisser mourir l'esclave, pour le maître, revient à signer son propre arrêt de mort. Pis pour Marx, la bourgeoisie de l'époque contemporaine, en dépit des progrès considérables des sciences et des techniques et l'amélioration significative du niveau de vie, a refusé de pourvoir au prolétariat les moyens nécessaires à sa survie.
Toutes ces considérations ci-haut mises en évidence pour arriver à un point nodal de notre argumentaire au sujet de Dona Clemência.
Pour apparaître sous les jours d'actions charitables, gage de sa bonne foi chrétienne, les largesses de Dona Clemência ne sont guère désintéressées. Ce n'est guère un mystère d'affirmer que, sur la terre sèche du latifundium aux fortes caractéristiques féodales, le recours au travail salarié des enfants est monnaie courante. Il s'agit en fait d'une main d'uvre bon marché, quasi servile et corvéable à la merci de la puissante dynastie des latifundiaires. Il convient dès lors, de la part de la classe dominante, dont Dona Clemência, de nourrir ces enfants issus du peuple, pour dérisoire que soit cette nourriture afin qu'ils puissent s'adonner à leurs tâches respectives : qui gardant les porcins, qui rabaissant la terre ou labourant les champs, qui aux prises avec une machine dévoratrice de force humaine appelée "a debulhadora" - la batteuse - quand ils sont à cheval entre l'adolescence et la majorité.
A l'aune de ces considérations, il n'est guère insensé d'affirmer que l'hypocrisie est le signe distinctif notoire de cette figure féminine. Il convient dès lors de ne pas prendre pour argent comptant ses simulacres d'actions charitables. Cette idée d'hypocrisie de Dona Clemência est rendue par le biais d'une ironie particulièrement sarcastique. Pour en témoigner, il convient tout simplement de nous référer à la charge ironique empreinte dans des expressions telles - "os anjinhos" (par référence aux rejetons des ruraux) et "beata" (par allusion à Dona Clemência elle-même).
Nous voyons donc que, aussi déguisée et indirecte soit l'exploitation à laquelle elle a recours, Dona Clemência semble assumer un rôle actanciel : celui d'opposant du peuple ; et cela en dépit des attributs et qualificatifs pompeusement positifs que lui prête le prêtre corrompu du latifundium : le père Agamedes. C'est cette figure féminine et les autres membres de la classe bourgeoise qui donnent forme et consistance à l'exclusion des ruraux.
En dépit de son appartenance à la gent féminine qui, sur cette terre de carences du latifundium, est l'objet de bien de déshonneurs et est reléguée au second plan de la vie sociale, politique, économique et culturelle, Dona Clemência, à l'opposé des femmes issues du prolétariat, n'a guère été totalement hantée par les démons de l'exclusion entendue comme précarité ou une situation matérielle défavorable. Elle n'a guère été strictement confinée à l'administration des choses domestiques. Elle a trouvé une précieuse échappatoire dans les simulacres d'actions philanthropiques qu'elle n'a jamais cessé d'entreprendre pour la bonne marche et un prestige de plus en plus grandissant de la dynastie hégémonique des Bertos. A cela s'ajoute la présence du père Agamedes qui lui permet d'anéantir les affres de la solitude des tâches ménagères car, n'a-t-on pas affirmé plus haut et de bonne guerre que très souvent, solitude et exclusion font figure de deux concepts intimement liés : l'une s'érigeant bien des fois en cause ou conséquences de l'autre.
Par ailleurs, dans la mesure où le rôle qu'elle assume - celui de "maîtresse de céans" des latifundiaires, pour paraphraser Jean Baptiste Poquelin dans Tartuffe, a un ancrage dans les us et coutumes de maintes traditions bourgeoises du monde occidental, ce personnage féminin fait figure de personnage référentiel.
Aussi une question mérite-t-elle être posée : "Comment l'exclusion de la femme prolétaire apparaît-elle dans cette uvre de José Saramago ?"
2. Le calvaire des femmes prolétaires
Même si elle paraît plus épanouie du point de vu de la vie sentimentale que sa congénère bourgeoise, la femme prolétaire pâtit cependant des brutes réalités de la nature : maternité précoce, à répétition et sans espacement salutaire des naissances. Cette situation génère des conséquences néfastes sur elle dans la perspective de la difficile conquête de la parité entre l'homme et la femme, l'acquisition d'un statut social meilleur :
"Quando estes casamentos se fazem, às vezes já vem um filho na barriga. Deita o padre a benção a dois e ela cai sobre três, conforme se vê pelo redondo da saia, às vezes empinada já. Mas mesmo quando assim não é, vá a noiva virgem ou desvirgada, muito de estranhar será passar um ano sem filho. E, quando Deus quer, é um fora, outro dentro, mal a mulher pariu, logo ocupa. É uma brutidão de gente, ignorantes, piores que animais, que esses têm seu cio e seguem as leis da natureza. Mas estes homens
chegam do trabalho ou da taberna, enfiam-se no catre, aquece-os o cheiro da mulher ou o rescaldo do vinho ou o apetite que dá a fadiga, e passam-lhe para cima, não conhecem outras maneiras, arfam, brutos sem delicadeza, e lá deixam a seiva a abeberar nas mucosas, nessa trapalhada de miudezas de mulher que nem um nem outro entendem" 4
Il ressort de ce passage la responsabilité des hommes dans ce manque d'espacement des naissances chez la femme rurale. L'ignorance qui affecte les membres de cette classe sociale leur confère un degré de bassesse en deçà de l'animalité dont les élans reproductifs semblent ordonnés par des lois naturelles. Comme il est traditionnel, cette incapacité de la femme à contrôler sa vie reproductive donc de s'approprier son corps est à l'origine de l'exclusion de celle-ci de certains domaines de la sphère professionnelle ou quand elle n'est pas exclue, dans le cadre du travail, elle éprouve d'énormes difficultés à avoir une rémunération égale à celle de son collègue masculin.
Aussi ressort-il de ce qui suit la marginalisation de la femme rurale : "De mulheres nem vale a pena falar, tão constante é o seu fado de parideiras e animais de carga"5.
L'idée d'exclusion de la femme rurale découle de la négation "De mulheres nem vale a pena falar", du registre familier et populaire fréquent en milieu rural "parideiras" empreint de vulgarité ainsi que le recours au champ sémantique de la zoomorphisation notamment à travers la comparaison de la femme à une bête de somme - animal de carga -6.
Dans une société agricole comme celle du latifundium aux fortes caractéristiques féodales, le rôle de la femme se résume très souvent, à quelques rares exceptions, à l'accomplissement routinier des travaux domestiques. En vérité Gracinda Mau-Tempo, à ce stade de l'intrigue, ne fait pas exception à la règle. Pis, elle s'adonne, malgré sa grossesse, à corps perdu, à la réalisation de ses tâches ménagères. Pour le moins, c'est cela l'idée que dénote l'extrait ci-dessous :
"[ ] E entretanto foi Gracinda Mau-Tempo mondar arroz, vai de barriga, e quando não puder mondar vai à água, e quando não puder andar à agua vai fazer o comer do rancho, e quando não puder fazer o comer do rancho volta à monda, anda-lhe a barriga ao lume da água, vai-lhe nascer o filho rã" 7.
Le statut de la femme dans un monde où souffrance, oppression et dépravation des murs sont les mots maîtres n'est guère enviable. Le narrateur affirme que travailler, se rendre dans les tavernes ou battre les femmes sont les distractions favorites des hommes du latifundium, du moins ceux appartenant à la classe prolétaire. Si battre une femme est une distraction, c'est dire que le statut de la femme, sur la terre sèche du latifundium, ne vaut pas plus que celle d'une chaise ou d'une table. La femme y est certes opprimée, réifiée et exclue. Du reste, c'est cela l'idée qui ressort en filigrane du passage suivant : "Afinal a distração deles é o trabalho, se não trabalharem metem-se na taberna e depois batem nas mulheres coitadas"137.
Toutefois l'épithète "coitadas" traduit non seulement la compassion du narrateur envers la femme mais aussi sa réprobation de ces pratiques dignes d'un autre âge. De fait, il y a dans tout écrit, primant sur les autres, une voix qui fait autorité. Cette voix est, selon les cas, celle du narrateur ou celle de l'auteur impliqué, mais c'est par rapport à elle que fonctionne l'ensemble du système. Si cette voix est responsable de l'idéologie du texte, c'est en vertu d'un mécanisme précisément décrit par Susan Suleiman :
"Dans la mesure où le narrateur se pose comme source de l'histoire qu'il raconte, il fait figure non seulement d' "auteur" mais aussi d'autorité. Puisque c'est la voix qui nous informe des actions des personnages et des circonstances où celles-ci ont lieu, et puisque nous devons considérer - en vertu du pacte formel qui, dans le roman réaliste, lie le destinateur de l'histoire au destinataire - que ce que cette voix raconte est "vrai", il en résulte un effet de glissement qui fait que nous acceptons comme "vrai" non seulement ce que le narrateur nous dit des actions et des circonstances de l'univers diégétique, mais aussi tout ce qu'il énonce comme jugement et comme interprétation. Le narrateur devient ainsi non seulement source de l'histoire mais aussi interprète ultime du sens de celle-ci" 8.
C'est pourquoi, pour reprendre le fil de notre argumentation, quand le narrateur utilise l'expression "coitadas", c'est qu'il "énonce [un] jugement" désapprouvant ainsi les pratiques moyenâgeuses dont souffre la femme rurale de la part de certains hommes du Latifundium. Mais à la vérité, par ce canal, le narrateur s'érige aussi en "autorité" et "interprète ultime" du sens de l'exclusion de la femme rurale.
Voyons maintenant ce phénomène d'exclusion chez la première génération de ruraux dont Sara da Conceição - figure la plus aboutie de la femme exclue - en est le personnage féminin paradigmatique.
Dans la société moderne que représente le roman et même bien avant l'avènement de la République où l'argent et l'aisance financière déterminent le statut social d'un individu, il n'est guère étonnant de constater que la mise à l'écart affecte plus la femme prolétaire que sa congénère bourgeoise. Aux contingences de la nécessité qui affectent la première s'ajoute le poids des stéréotypes et des stigmates sur fond de mentalité rétrograde et machiste. Sara da Conceição, dans la mesure où elle assume un rôle allégorique 9, celui de l'amante, fait figure de personnage référentiel. Du point de vue d'une caractérisation poétique qui scinde les personnages en fonction de trois mots maîtres : désir, communication et participation, l'on peut affirmer sans risque de nous tromper que, contre vents et marées et contre la volonté de tous, elle a aimé Domingos Mau-Tempo à l'obsession, l'homme avec qui elle a décidé de s'unir pour le meilleur et pour le pire. Elle assume également le rôle de mère de famille soumise et silencieuse.
Nonobstant la flamme qui les a unis, Sara da Conceição a souffert de nombre de vexations eu égard aux murs de son homme qui laissent à désirer. Après la disparition tragique de celui-ci, elle alla vivre avec ses enfants dans la demeure paternelle dans un premier temps, puis d'une concession à une autre, elle se consacra exclusivement à l'éducation de ses enfants.
Enfin, elle incarne la première génération de ruraux correspondant à l'ère de l'"apprentissage exemplaire négatif"10. Pendant cette phase de la longue marche pour la dignité des travailleurs saisonniers, le statut de la femme, dans cette société aux fortes caractéristiques féodales, était secondaire.
Dans une imitation parodique et ironique d'expressions évangéliques liées à Marie, mère de Jésus, la parole dite par Sara da Conceição qui se dit esclave du Seigneur, du maître du latifundium - "faça em mim a sua vontade" (comme l'a dit dans le cas biblique Marie de Nazareth à l'ange de l'annonciation) traduit fidèlement la psychologie de cette figure féminine dévouée, silencieuse et docile symbolisant un âge réactionnaire de l'éveil de conscience des ruraux.
Par ailleurs, la figure de ce personnage féminin n'a de sens qu'éclaircie à l'aune de la foule de relations structuralement nécessaires (Cf. Humberto Eco) qui la lie au système de personnage du roman, entendons par là son mari Domingos Mau-Tempo, ses enfants João, Maria da Conceição, Anselmo, à son père Laureano Carranca, aux Picanço pour ne citer que ceux-là. Pour les uns elle est épouse ou mère ; pour les autres, fille, sur ou belle soeur. A ce titre, elle fait figure de personnage anaphore.
De l'union de ces deux figures paysannes naîtront des enfants dont João Mau-Tempo, Anselmo, Maria da Conceição. A l'instar de sa mère, celle-ci connaîtra également une vie marquée par la mise à l'écart. Enfant, on la voit exercer un travail aliénant et destructeur dans une propriété appelée suggestivement "Pendão das mulheres", lieu d'ailleurs où son frère João Mau-Tempo rencontrera sa future épouse Faustina lors de la quinzaine de repos. A l'âge adulte elle exercera un autre métier précaire : celui de domestique dans un des immeubles appartenant aux latifundiaires (la puissante dynastie des Bertos) à Lisbonne. A ce titre, à la suite des idées défendues par Jérôme Ballet, Claude Dubar et Serge Paugam, la notion de travail précaire et le concept d'exclusion ont toujours entretenu un rapport étroit. Pour témoigner de la réification de cette travailleuse domestique qu'est Maria da Conceição et son statut social précaire - matérialisé par le manque de liberté et l'incapacité de décider qui le caractérise -, il convient de se référer à la scène de libération des prisonniers politiques - dont son propre frère João Mau-Tempo - arrêtés pour sédition et incitation à la grève, notamment pour une révision à la hausse du salaire horaire de la part des latifundiaires, auxquels elle n'a pas pu offrir l'hospitalité. Libéré nuitamment de la prison de l'Aljube, livré à lui-même dans une nuit d'hiver glacial, João Mau-Tempo sera finalement hébergé par un inconnu répondant au nom de Ricardo Reis - imitation parodique de l'onomastique d'un des hétéronymes du poète lisboète de l'intranquillité -Fernando Pessoa. Or la logique voudrait que dans le Portugal que le romancier essaie de représenter avec une tradition judéo-chrétienne ancrée que ce soit la sur (Maria da Conceição) qui accueille son frère João Mau-Tempo. Cette impossibilité d'agir à ce stade de l'intrigue semble être la marque la plus évidente de sa marginalisation. A l'opposé de figures féminines émancipées et issues du prolétariat rural, telles Maria Adelaide Espada ou Gracinda Mau-Tempo, elle semble être une figure féminine silencieuse, objet et non actrice de l'épopée à l'envers des ouvriers agricoles, une espèce de révolution aux fortes connotations marxistes-léninistes qui trahit la coloration politique de l'auteur José Saramago, militant du Parti Communiste dès 1967.
Dans leur vie de couple et leur lutte pour la "survie", aussi instinctive soit-elle, Domingos Mau-Tempo et Sara da Conceição seront confrontés à des obstacles incarnés par des opposants mais peuvent aussi compter sur le soutien d'adjuvants. C'est dans le registre des adjuvants qu'il convient d'inscrire des personnages comme Picanço (même si l'aide de ce dernier ne concerne que la malheureuse Sara da Conceição et sa descendance auxquelles il a apporté un précieux secours quand Domingos Mau-Tempo, aveuglé par le destin et la débauche a formulé la volonté de récupérer les siens). Mais les Mau-Tempo seront aussi confrontés à l'adversité d'opposants comme Laureano Carranca et Joaquim Carranca sans oublier les membres de la classe oppressive étudiés plus haut. Toutefois relativisons notre point de vue concernant ce dernier car, à un certain stade de l'intrigue comme nous le verrons après le suicide de Domingos, il sera le père des enfants de Sara da Conceição qui n'en ont pas un et Sara assurera le rôle de femme de Joaquim Carranca qui n'en a pas une. Nous voyons donc que la situation sociale de Sara da Conceição, par devers même sa caractérisation poéticienne 11 n'est guère enviable car rimant très souvent avec oppression, exclusion ; et cela malgré sa situation matrimoniale avec le cordonnier ivrogne Domingos Mau-Tempo qui, en principe censé la protéger et lui procurer un regain de sécurité sociale, la fragilise impitoyablement. Aussi en un ultime ressort une série de question mérite d'être posée : Qu'en est-il de Maria Adelaide Espada ? Apportera-t-elle le salut à la femme longtemps reléguée au second plan de la vie du latifundium ?
3. Un soleil d'équité: Maria Adelaide Espada
La troisième génération de la famille Mau-Tempo, comme nous l'avons vu au cours des pages précédentes, est représentée par Gracinda Mau-Tempo qui, contrairement à sa mère (Faustina Mau-Tempo) et à sa grand-mère (Sara da Conceição), ne se révèle pas totalement soumise au modèle masculin et ose imposer sa volonté à son mari. Son mariage avec Manuel Espada donne lieu à un rituel positif marqué par la fraternité, par l'abondance de nourriture et de vin (p. 222), mais aussi par le discours hypocrite du Père Agamedes et, surtout par la réaction de António Mau-Tempo, son frère qui a eu l'audace de faire taire le représentant du pouvoir, dans une attitude audacieusement subversive qui pointe vers une étape nouvelle de conscientisation des ruraux :
"Estamos no casamento da minha irmã, senhor Padre Agamedes, não é hora de falar de greves nem de merecimentos, e a voz foi tão serena que nem parecia de zanga, mas era, ficaram todos muito calados à espera do que ia acontecer, e o padre disse que bebia à saúde dos noivos e depois sentou-se." (p. 223)
Pour Maria Graciete Besse, "Tal como nos explica Roger Caillois, a festa, autorizando todas as transgressões rituais, não passa de um retorno ao grande tempo mítico que elimina o "tempo referenciado."" 12.
Cependant, cette attitude de António Mau-Tempo révèle une étape importante dans la prise de conscience et dans la capacité de contestation des travailleurs ruraux.
A ce mariage se succède, quelques moments plus tard, la naissance de Maria Adelaide qui, comme l'affirme Teresa Cristina Cerdeira da Silva, est une figure féminine qui "não se limitará a ser actriz num cenário de homens, mas que inaugurará um novo ciclo onde também as mulheres, ao lado de todos os marginalizados, se levantam do chão." 13
C'est dire donc que, contrairement à Sara da Conceição symbolisant l'âge de l'obscurantisme et de la soumission et plus que sa propre mère Gracinda Mau-Tempo habitée par l'idée d'émancipation, Maria Adelaide se veut actrice ("actriz") et non objet de l'écriture de l'épopée à l'envers du Latifundium. Pour elle, un homme ou une femme ne compte pas exclusivement en termes d'appartenance à tel ou tel autre sexe mais par sa valeur intrinsèque, à savoir la capacité de l'un (e) ou de l'autre à agir sur son environnement sociopolitique par le biais de l'engagement militant. Celui-ci doit par contre être le résultat d'une prise de conscience et d'une démarche intelligente. Elle est donc le condensé, l'aboutissement du processus d'apprentissage (déclenché dès la première génération de ruraux, en passant par les phases intermédiaires) tel qu'on le retrouve dans le Bildungsroman, une autre modalité du roman à thèse (tel que le conçoit Susan R. Suleiman).
D'origine noble si l'on en croit le radical de son prénom "Adal" signifiant noble en allemand (Cf. Maria Graciete Besse, 2008), elle a hérité des yeux bleus de son aïeul à l'ascendance nordique qui avait forcé, un jour, une jeune fille venue remplir sa jarre d'eau à la source de Amieiro.
Sa naissance, sous le mode d'une "stylisation parodique" significative du verbe biblique, nous est présentée comme la venue au monde du Christ avec la scène de l'étable exposée plus haut. Concernant cette scène à la densité symbolique et allégorique reconnue, inspirons-nous des travaux de Maria Graciete Besse. En effet, pour l'universitaire, la scène de la naissance de Maria Adelaide Espada donne lieu à une notable recréation de la scène de l'étable. Mieux, pour Maria Graciete Besse, le narrateur présente soigneusement les éléments structurants de cette représentation biblique : "le bienheureux pêché d'Eva" (p. 293), la présence des animaux, bien que différents, étant donné que l'un d'eux, le porc, "não é próprio para presépios" (p. 295), la clarté définie par les yeux bleus de la jeune fille, comme "duas gotas de água banhadas de céu" (p. 295) et surtout la venue des hommes de la famille, identifiés aux "três reis magos" (p. 296) : le grand-père, João Mau-Tempo, apporte comme présent une fleur de géranium, António offre à sa nièce une marguerite jaune; Manuel Espada, le papa, qui voyage dans une "noite estrelada e imensa" (p. 299) conduit par "dois vagalumes" qui lui indiquent le chemin, "não traz presentes ( ) Estende as mãos e cada uma delas é uma grande flor". (p. 300).
La description du "Presépio" se termine avec le lever du soleil: "gritaram para dentro que estava o sol nascendo" (p. 300). A l'image du Messie dont la venue annonce une ère nouvelle, Maria Adelaide Espada, annoncée par la clarté, incarne les expectatives du peuple métaphoriquement mises en évidence par l'instance narratrice dans ce qui suit:
"Visto de Monte Lavre, o mundo é um relógio aberto, está com as tripas ao sol, à espera de que segue a sua hora". (p. 138, LC).
La naissance de Maria Adelaide annonce ainsi une époque de rédemption et pointe vers une lecture eschatologique du temps et cela en raison de son identification au Messie car, comme le remarque Maria Graciete Besse, convoquant Mircea Eliade : "Le Messie ( ) assume le rôle eschatologique du Roi-dieu ou du roi représentant de la divinité sur la Terre, et dont la principale mission était de régénérer périodiquement la Nature entière" 14.
Ce personnage, nous l'avons vu, est donc le produit de l'alliance de la fougue juvénile, de la conscience de Manuel Espada et de l'émancipation de la figure féminine engagée Gracinda Mau-Tempo. Tant l'histoire familiale que le contexte social favorisèrent l'émergence de ce personnage féminin acteur et non objet de l'écriture de la grande épopée des travailleurs saisonniers ; épopée non de l'élite sociale magnifiée par Luís Vaz Camões dans "Os Lusíadas" mais de ceux qui n'ont pas droit de cité dans l'historiographie officielle, les laissés pour compte du système capitaliste, les masses populaires opprimées. Elle est, dans ce roman, le porte-parole le plus représentatif de José Saramago dans l'uvre duquel la femme occupe une place centrale. Elle y est chargée d'une connotation mystique réelle et évocatrice de grandes paroles politiques. A ce titre Maria Adelaide Espada fait figure de personnage embrayeur.
La relation entretenue par ce personnage et la thématique de l'exclusion n'est pas explicitement mise en évidence. De fait, son âge adulte correspond avec la fin des exclusions et l'avènement de la justice sociale. Nous pouvons cependant affirmer qu'elle a toujours fait montre d'une grande fierté et d'une grande dignité et, sans nul doute, elle a été une source de motivation pour ses père et mère Manuel Espada et Gracinda Mau-Tempo, eux-mêmes ouvriers agricoles engagés et conscients. Rien que pour cela les combats menés par Maria Adelaide Espada méritent un relief particulier dans le combat pour l'émancipation des femmes et la lutte contre leur exclusion.
En définitive, il convient d'affirmer que les femmes ont très souvent été reléguées au second plan de la vie sociale en raison des traditions patriarcales rigides en vigueur dans bien des sociétés. L'ibérique ne fait pas exception à la règle. En outre nous savons que le salazarisme est un système de domination politique particulièrement répressif et excluant et ayant fondamentalement accentué les inégalités sociales au Portugal. Dans une telle société dominée par la trilogie dominatrice Etat, Eglise et Latifundium où tout le prolétariat se trouve exploité, les femmes y sont marginalisées, indépendamment de leur appartenance à la classe bourgeoise ou au prolétariat. Cette exclusion revêt cependant des spécificités et des particularismes variant en fonction de l'appartenance de la femme à la bourgeoisie ou au prolétariat rural. Toutefois c'est la femme prolétaire - sur quatre générations de la famille Mau-Tempo - qui sera au cur des combats les plus âpres qui aboutiront finalement à la fin des exclusions avec la génération de Maria Adelaide Espada dont la figure se confond avec celle du Messie.
Le premier intérêt de notre travail c'est qu'il a consisté à mettre en exergue l'exclusion de la femme dans le gotha bourgeois. Dans ce registre, il convient de dire que, même si elle est affranchie des contraintes de la nécessité, la femme s'y trouve quand même exclue en raison du machisme mais également de la pauvreté des sentiments affectifs. Le second intérêt de notre étude est relatif à la mise en exergue du calvaire de la femme prolétaire. Il épouse des contours où les conditions matérielles peu avantageuses, le poids du patriarcat et l'exploitation implacable venant de la bourgeoisie jouent un rôle de tout premier plan. De la soumission de Sara da Conceição de la première génération, la femme rurale finira par s'affranchir du joug sous lequel elle pliait avec la génération de Maria Adelaide Espada de la quatrième génération, en passant par les générations intermédiaires (João et Faustina, Gracinda Mau-Tempo et Manuel Espada). Enfin en un ultime ressort notre travail a consisté à dépeindre la fin de l'exclusion des femmes dans Levantado do Chão avec la figure féminine charismatique Maria Adelaide Espada comparée métaphoriquement au Messie comme nous l'avons vu plus haut.
Aussi une question mérite-t-elle d'être posée : sous quel angle, l'exclusion de l'enfant se prête-t-elle à l'analyse ? Mais, de fait, cela peut constituer le point de départ pour la rédaction d'un autre article.
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Notes :
1. Mahamadou DIAKHITE est Maître de Conférences Assimilé au Département de Langues et Civilisations Romanes de l'Université Cheikh Anta Diop de Dakar.
2. "Je définis comme roman à thèse un roman réaliste (fondé sur esthétique du vraisemblable [cette vraisemblance pourra être une allusion explicite au réel, c'est nous qui soulignons] et de la représentation) qui se signale au lecteur principalement comme porteur d'un enseignement, tendant à démontrer la vérité d'une doctrine politique, philosophique, scientifique ou religieuse". Cf. Susan R. SULEIMAN, Le roman à thèse ou l'autorité fictive, Paris, PUF écriture, 1983, p.14.
3. Cf. "É uma cerimónia linda, derretem-se os corações de santa compaixão, nenhuns olhos ficam enxutos, nem os narizes, que é Inverno agora e sobretudo lá fora, encostados ao prédio estão os garotos de Monte Lavre que vieram a esmola, vede como padecem, e descalcinhos, doridos, olhai como as meninas levantam um pezinho e logo o outro a fugir do chão gelado [...]. É uma fila à espera, cada qual com sua latinha na mão, todos de nariz no ar, fungando o ranho, a ver quando enfim se abre a janela do andar e a cesta pendurada por um cordel desce do céu, devagarinho, a magnimidade nunca tem pressa, era o que faltava, a pressa é que é plebeia e sôfrega, só não engole os feijões frades mesmo assim porque vêm crus". Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão 16a edição, Editorial Caminho, Outubro de 2002, pp. 187-188.
4. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., p. 291.
5. Cf. Ibidem, p 125.
6. Cf. Idem.
7. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., p 291.
8. Cf. S. SULEIMAN, Le roman à thèse ou l'autorité fictive, op. cit, supra, p.90.
9. Pour Philippe Hamon, l'amante, cet être romanesque qui, contre vents et marées, soutient son bien-aimé, est un rôle allégorique enraciné dans la tradition. Or les personnages allégoriques tout comme les sujets historiques (Napoléon, etc.) sont des personnages-référentiels ; par conséquent Sara da Conceição appartient à cette catégorie sémiologique. Cf. Roland BARTHES et al., Poétique du récit, Paris, Editions du Seuil, 1977, p. 123.
10. Cf. Susan Rubin SULEIMAN, Le roman à thèse ou l'autorité fictive, op. cit., supra, p. 313. Entendons par cette terminologie d'"apprentissage exemplaire négatif" la phase négative de l'éveil des consciences chez le prolétariat rural qui se caractérise par la soumission, l'obscurantisme et le silence chez la femme et chez le prolétariat d'une manière générale par des sautes d'humeur, des querelles intestines. L'exemple le plus frappant est la rivalité qui a opposé les travailleurs du Nord et ceux du Sud ou encore quand certains ouvriers agricoles pensent que pour se venger de la classe bourgeoise (qui refuse de leur payer un salaire décent) il faut mettre le feu aux récoltes. Or ces ouvriers ignorent qu'avec les flammes qui s'empareront de celles-ci va s'évanouir également l'espoir d'avoir un travail rémunéré. Or sans travail il n'y aura pas de pain nourricier pour nourrir le peuple. Par conséquent la famine affectera le camp prolétaire anéantissant à jamais les velléités révolutionnaires. Pendant cette phase non seulement la femme est soumise, ignorante mais aussi, à la l'image de tout le prolétariat, elle n'est pas animée par une conscience de classe et ignore les responsables de sa marginalisation. Certains critiques de la littérature néo-réaliste désignent également cette expression "apprentissage exemplaire négatif" par l'appellation de "conscience en soi".
11. Nous entendons par le vocable poétique : "l'étude immanente des procédés internes de l'uvre littéraire" tel que le conçoit Vincent JOUVE dans son livre incontournable suggestivement intitulé : La poétique du roman, 2e édition, Paris, SEDES, 1997.
12. Cf. Maria Graciete BESSE, José Saramago e o Alentejo: entre o real e a ficção, Lisboa, Casa do Sul, 2008, pp. 78-79.
13. Cf. Teresa Cristina CERDEIRA DA SILVA, José Saramago: entre a história e a ficção: uma saga de portugueses, Lisboa, Pub. D. Quixote, 1989, p. 259.
14. Cf. Mircea ELIADE, Le mythe de l'éternel retour, Paris, Ed. Gallimard, 1969, pp 123-124
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M. Diakhité1
Résumé
Le roman Levantado do Chão (1980) de José Saramago peut être considéré comme un prolongement intéressant du néo-réalisme au Portugal ; un mouvement littéraire se proposant de dénoncer les abus du régime dictatorial imposé par le Docteur António de Oliveira Salazar et son dauphin Marcelo Caetano. Ce régime élitiste avait fait de l'agriculture un des fers de lance de sa politique économique. Toutefois les terres arables étaient détenues par une infime minorité (les latifundiaires) qui exploitaient l'écrasante majorité (le prolétariat agricole). Sous un tel régime marqué par la lutte de classes, la femme (bourgeoise ou prolétaire) y est doublement exclue du fait des conditions matérielles ou d'une doctrine patriarcale séculaire. Ainsi allons-nous voir dans un premier temps les conditions de vie de la femme bourgeoise, ensuite en un second lieu le calvaire de la femme prolétaire et enfin la génération révolutionnaire avec Maria Adelaide Espada dans une démarche de va-et-vient entre les instruments théoriques littéraires, linguistiques, sociologiques et notre uvre de référence (LC).
Mots-clés : Salazarisme, condition féminine, patriarcat, classes sociales, révolution.
Condition of the Woman and Exclusion in Levantado do Chao de Jose Saramago
Abstract
The novel of Levantado do Chao (1989) can be considered as an interesting extension of neo-realism in Portugal; a literary movement proposing to denounce the abuses of the dictatorial regime imposed by Dr. Antonio de Oliveira Salazar and his dolphin Marcelo Caetano. This elitist regime had made agriculture one of the spearheads of its economic policy. However, arable lands were owned by a tiny minority (the latifundaries) who were exploiting the overwhelming majority (the agricultural proletariat). Under such a regime marked by the class struggle, the woman (bourgeois or proletarian) is doubly excluded from it because of material conditions or a patriarchal secular doctrine. So we will first see the conditions of life of the bourgeois woman, then in a second place the ordeal of the proletarian woman and finally the revolutionary generation with Maria Adelaide Espada in a process of going back and forth between the theoretical, literary, linguistic, sociological instruments and our reference work (LC).
Key-Words: Salazarism, status of women, patriarchy, social classes, revolution
Le roman Levantado do Chão de José Saramago peut être considéré comme un prolongement intéressant du néo-réalisme portugais si l'on en croit Vitor Viçoso. Or le néo-réalisme est un courant de pensée littéraire d'inspiration marxiste-léniniste qui conteste et dénonce les abus du système de domination politique imposé par le Salazarisme. En outre il prend parti pour la cause des couches défavorisées de la société (notamment le prolétariat) qui doit mettre un terme provisoire au diktat imposé par la bourgeoisie et cela par le biais de la Révolution. Le Portugal, à l'image de bien d'autres pays européens et de la péninsule ibérique en particulier, est un pays à la tradition patriarcale bien ancrée. Livre de la terre, Levantado do Chão de José Saramago se propose de dénoncer l'exploitation du prolétariat rural par les riches latifundiaires.
Or nous verrons que la société portugaise sous le régime dictatorial de l'État Nouveau est une société foncièrement agricole avec deux grandes subdivisions. Le Nord (zone du minifundium - la petite propriété agricole) et le Sud - zone de prédilection de la grande propriété agricole (le latifundium) détenu par une infime minorité de la population qui exploite la grande majorité. A cause de la rareté et de l'exiguïté des terres dans le Nord, les paysans du Nord migrent vers le Sud où il y a donc de vastes terres arables mais où ils seront implacablement exploités par les riches latifundiaires.
Dans un système social où tout le prolétariat rural est exploité, l'exclusion de la femme prolétaire y est plus accusée. La bourgeoise du fait d'une situation financière avantageuse présente une autre forme d'exclusion se rapportant plus à l'univers des sentiments qu'à la pauvreté. Toutefois au terme d'un long et douloureux processus de prise de conscience et de maturité idéologique, c'est la femme prolétaire qui sera au cur de toutes les luttes qui aboutiront finalement à la justice sociale (aboutissement du raisonnement de l'auteur dans l'uvre) par le biais de la révolution.
Face à la pertinence du sujet, une série de questions s'impose : comment l'exclusion de la femme apparaît-elle dans Levantado do Chão ? Quelles en sont les spécificités ? Quels aspects, quelles modalités revêt l'exclusion de la femme dans Levantado do Chão selon que celle-ci appartient à la bourgeoisie ou au prolétariat rural ?
Y a-t-il des figures féminines qui échappent à l'ordinaire et s'inscrivent dans une dynamique de changement ?
La réponse à ces questions, ultime étape de notre argumentation, nous conduira au cur de notre réflexion relative au rapport existant entre la condition féminine et la problématique de l'exclusion dans le roman.
Il va s'agir d'étudier dans un premier temps la vie dans le gotha bourgeois, ensuite le supplice de la femme rurale et enfin la figure féminine consciente et émancipée Maria Adelaide Espada.
1. L'existence dans le gotha bourgeois
L'exclusion n'est pas un phénomène qui touche exclusivement la femme prolétaire. Elle affecte également sa congénère bourgeoise. Celle-ci est représentée fondamentalement par deux personnages : Maria Graniza et Dona Clemência. Il y a également la figure de Cesaltina, la femme de Ourique. Celle-ci apparaît dans la scène d'assassinat de Germano Santos Vidigal par les dragons de la PIDE. Mais sa contribution ou positive ou négative dans la quête politique qui meut le prolétariat rural n'est pas explicitement mise en évidence dans Levantado do Chão. C'est pourquoi elle fait figure de personnage secondaire n'ayant pas un impact significatif dans l'évolution de la trame du roman. Celui-ci est un roman à thèse selon une définition proposée par Susan Suleiman2. Ce qui fait que pour étudier l'existence de la femme dans le gotha bourgeois nous nous limiterons à l'étude des deux premières figures féminines (Maria Graniza et Dona Clemência). Il convient de dire que le mot gotha est le contraire de ghetto. Certes le gotha apparaît comme un lieu de confinement au luxe et au confort matériel mais la femme bourgeoise s'y ennuie du fait de l'oisiveté et du fait d'une vie caractérisée par la monotonie et la routine. Sur le plan de la libido sciendi, elle paraît d'ailleurs moins épanouie que la femme prolétaire. A l'opposé de Dona Clemência, Maria Graniza exerce une activité professionnelle : elle est une figure féminine appartenant à la bourgeoisie mercantile. Si elle s'ennuie du fait de la petitesse en terme numérique des membres de sa classe sociale (la bourgeoisie) mais également eu égard au fait qu'on ne lui connaît pas un mari (sa vie libidinale n'est pas explicitement mise en évidence). On ne sait pas non plus si elle a des enfants. Au demeurant l'on peut affirmer sans risque de se tromper que si Maria Graniza est affranchie des contraintes de la nécessité, elle semble toutefois exclue de ce qu'il y a de plus fondamental, si l'on en croit Sigmund Freud, la vie amoureuse, voire plus amplement sociale. Aussi une question mérite-t-elle d'être posée : "qu'en est-il exactement de Dona Clemência ?".
A ce propos il convient d'affirmer que si la femme bourgeoise n'est pas actrice des prises de décisions importantes concernant la vie publique ou la sphère économique, elle trouve toutefois une compensation de son exclusion à travers les actions philanthropiques qu'elle entreprend. Ainsi à cause de ses actions caritatives Dona Clemência trouve, à travers le Père Agamedes, un interlocuteur de choix susceptible de la faire sortir de la solitude des tâches ménagères à laquelle la femme est très souvent confinée et cela eu égard à la constatation que solitude et exclusion entretiennent un rapport étroit. Très souvent l'une s'érige en cause ou effet de l'autre. Dès lors, une question s'impose : comment une telle donne se prête-t-elle à l'analyse chez Dona Clemência, la figure féminine et "maîtresse de céans" du domaine des latifundiaires ?
Il convient de signaler que si le narrateur désigne les femmes issues du monde rural par leur nom, force est de souligner toutefois qu'il désigne cette figure féminine au moyen de la formule de politesse Dona (Clemência). Cette forme de traitement imprime la marque d'appartenance de cette figure féminine à la classe bourgeoise.
Cette onomastique Clemência semble d'ailleurs ironique tant elle s'inscrit en faux avec les agissements de ce membre influent de la classe bourgeoise : Dona Clemência.
De toutes les apparitions en texte de ce personnage féminin, une mérite une mention particulière tant elle nous édifie sur les méthodes et l'hypocrisie de cet élément central de la classe bourgeoise : la scène de distribution de l'aumône aux enfants des ruraux.
Importante est la mise en évidence du portrait moral de ce personnage quand on sait l'importance capitale que revêt la femme dans le parcours romanesque de José Saramago.
Aux pages 187 et 188 du roman3, on la voit généreusement offrir de l'aumône aux enfants des ruraux. A première vue, tout porte à croire qu'il s'agit bel et bien d'actions charitables. Mais quiconque se limiterait à une telle conclusion n'aurait fait qu'une analyse au premier degré, voire partielle et incomplète des élans faussement charitables de cette figure féminine bourgeoise. Expliquons-nous !
De fait, l'histoire de toute société depuis des temps immémoriaux à nos jours est celle de la lutte de classes : seigneurs féodaux et serfs, patriciens et plébéiens, hommes libres et esclaves et plus près de nous, à l'époque contemporaine, bourgeois et prolétaires. Et tout au long de ces divers âges historiques - de l'Antiquité classique aux temps modernes -, pour maintenir, légitimer et faire excuser sa suprématie, la classe dominante n'a guère cessé d'uvrer dans le sens que la classe dominée puisse au moins s'assurer les moyens de subsistance nécessaires à sa survie. Cette démarche semble s'inscrire dans la perspective de la dialectique du maître et de l'esclave héritée de la philosophie marxiste-léniniste. Aussi insignifiant soit l'esclave, le maître a besoin de lui. Le maître ne peut pas laisser mourir l'esclave car il a besoin de celui-ci pour assurer sa propre survie. Laisser mourir l'esclave, pour le maître, revient à signer son propre arrêt de mort. Pis pour Marx, la bourgeoisie de l'époque contemporaine, en dépit des progrès considérables des sciences et des techniques et l'amélioration significative du niveau de vie, a refusé de pourvoir au prolétariat les moyens nécessaires à sa survie.
Toutes ces considérations ci-haut mises en évidence pour arriver à un point nodal de notre argumentaire au sujet de Dona Clemência.
Pour apparaître sous les jours d'actions charitables, gage de sa bonne foi chrétienne, les largesses de Dona Clemência ne sont guère désintéressées. Ce n'est guère un mystère d'affirmer que, sur la terre sèche du latifundium aux fortes caractéristiques féodales, le recours au travail salarié des enfants est monnaie courante. Il s'agit en fait d'une main d'uvre bon marché, quasi servile et corvéable à la merci de la puissante dynastie des latifundiaires. Il convient dès lors, de la part de la classe dominante, dont Dona Clemência, de nourrir ces enfants issus du peuple, pour dérisoire que soit cette nourriture afin qu'ils puissent s'adonner à leurs tâches respectives : qui gardant les porcins, qui rabaissant la terre ou labourant les champs, qui aux prises avec une machine dévoratrice de force humaine appelée "a debulhadora" - la batteuse - quand ils sont à cheval entre l'adolescence et la majorité.
A l'aune de ces considérations, il n'est guère insensé d'affirmer que l'hypocrisie est le signe distinctif notoire de cette figure féminine. Il convient dès lors de ne pas prendre pour argent comptant ses simulacres d'actions charitables. Cette idée d'hypocrisie de Dona Clemência est rendue par le biais d'une ironie particulièrement sarcastique. Pour en témoigner, il convient tout simplement de nous référer à la charge ironique empreinte dans des expressions telles - "os anjinhos" (par référence aux rejetons des ruraux) et "beata" (par allusion à Dona Clemência elle-même).
Nous voyons donc que, aussi déguisée et indirecte soit l'exploitation à laquelle elle a recours, Dona Clemência semble assumer un rôle actanciel : celui d'opposant du peuple ; et cela en dépit des attributs et qualificatifs pompeusement positifs que lui prête le prêtre corrompu du latifundium : le père Agamedes. C'est cette figure féminine et les autres membres de la classe bourgeoise qui donnent forme et consistance à l'exclusion des ruraux.
En dépit de son appartenance à la gent féminine qui, sur cette terre de carences du latifundium, est l'objet de bien de déshonneurs et est reléguée au second plan de la vie sociale, politique, économique et culturelle, Dona Clemência, à l'opposé des femmes issues du prolétariat, n'a guère été totalement hantée par les démons de l'exclusion entendue comme précarité ou une situation matérielle défavorable. Elle n'a guère été strictement confinée à l'administration des choses domestiques. Elle a trouvé une précieuse échappatoire dans les simulacres d'actions philanthropiques qu'elle n'a jamais cessé d'entreprendre pour la bonne marche et un prestige de plus en plus grandissant de la dynastie hégémonique des Bertos. A cela s'ajoute la présence du père Agamedes qui lui permet d'anéantir les affres de la solitude des tâches ménagères car, n'a-t-on pas affirmé plus haut et de bonne guerre que très souvent, solitude et exclusion font figure de deux concepts intimement liés : l'une s'érigeant bien des fois en cause ou conséquences de l'autre.
Par ailleurs, dans la mesure où le rôle qu'elle assume - celui de "maîtresse de céans" des latifundiaires, pour paraphraser Jean Baptiste Poquelin dans Tartuffe, a un ancrage dans les us et coutumes de maintes traditions bourgeoises du monde occidental, ce personnage féminin fait figure de personnage référentiel.
Aussi une question mérite-t-elle être posée : "Comment l'exclusion de la femme prolétaire apparaît-elle dans cette uvre de José Saramago ?"
2. Le calvaire des femmes prolétaires
Même si elle paraît plus épanouie du point de vu de la vie sentimentale que sa congénère bourgeoise, la femme prolétaire pâtit cependant des brutes réalités de la nature : maternité précoce, à répétition et sans espacement salutaire des naissances. Cette situation génère des conséquences néfastes sur elle dans la perspective de la difficile conquête de la parité entre l'homme et la femme, l'acquisition d'un statut social meilleur :
"Quando estes casamentos se fazem, às vezes já vem um filho na barriga. Deita o padre a benção a dois e ela cai sobre três, conforme se vê pelo redondo da saia, às vezes empinada já. Mas mesmo quando assim não é, vá a noiva virgem ou desvirgada, muito de estranhar será passar um ano sem filho. E, quando Deus quer, é um fora, outro dentro, mal a mulher pariu, logo ocupa. É uma brutidão de gente, ignorantes, piores que animais, que esses têm seu cio e seguem as leis da natureza. Mas estes homens
chegam do trabalho ou da taberna, enfiam-se no catre, aquece-os o cheiro da mulher ou o rescaldo do vinho ou o apetite que dá a fadiga, e passam-lhe para cima, não conhecem outras maneiras, arfam, brutos sem delicadeza, e lá deixam a seiva a abeberar nas mucosas, nessa trapalhada de miudezas de mulher que nem um nem outro entendem" 4
Il ressort de ce passage la responsabilité des hommes dans ce manque d'espacement des naissances chez la femme rurale. L'ignorance qui affecte les membres de cette classe sociale leur confère un degré de bassesse en deçà de l'animalité dont les élans reproductifs semblent ordonnés par des lois naturelles. Comme il est traditionnel, cette incapacité de la femme à contrôler sa vie reproductive donc de s'approprier son corps est à l'origine de l'exclusion de celle-ci de certains domaines de la sphère professionnelle ou quand elle n'est pas exclue, dans le cadre du travail, elle éprouve d'énormes difficultés à avoir une rémunération égale à celle de son collègue masculin.
Aussi ressort-il de ce qui suit la marginalisation de la femme rurale : "De mulheres nem vale a pena falar, tão constante é o seu fado de parideiras e animais de carga"5.
L'idée d'exclusion de la femme rurale découle de la négation "De mulheres nem vale a pena falar", du registre familier et populaire fréquent en milieu rural "parideiras" empreint de vulgarité ainsi que le recours au champ sémantique de la zoomorphisation notamment à travers la comparaison de la femme à une bête de somme - animal de carga -6.
Dans une société agricole comme celle du latifundium aux fortes caractéristiques féodales, le rôle de la femme se résume très souvent, à quelques rares exceptions, à l'accomplissement routinier des travaux domestiques. En vérité Gracinda Mau-Tempo, à ce stade de l'intrigue, ne fait pas exception à la règle. Pis, elle s'adonne, malgré sa grossesse, à corps perdu, à la réalisation de ses tâches ménagères. Pour le moins, c'est cela l'idée que dénote l'extrait ci-dessous :
"[ ] E entretanto foi Gracinda Mau-Tempo mondar arroz, vai de barriga, e quando não puder mondar vai à água, e quando não puder andar à agua vai fazer o comer do rancho, e quando não puder fazer o comer do rancho volta à monda, anda-lhe a barriga ao lume da água, vai-lhe nascer o filho rã" 7.
Le statut de la femme dans un monde où souffrance, oppression et dépravation des murs sont les mots maîtres n'est guère enviable. Le narrateur affirme que travailler, se rendre dans les tavernes ou battre les femmes sont les distractions favorites des hommes du latifundium, du moins ceux appartenant à la classe prolétaire. Si battre une femme est une distraction, c'est dire que le statut de la femme, sur la terre sèche du latifundium, ne vaut pas plus que celle d'une chaise ou d'une table. La femme y est certes opprimée, réifiée et exclue. Du reste, c'est cela l'idée qui ressort en filigrane du passage suivant : "Afinal a distração deles é o trabalho, se não trabalharem metem-se na taberna e depois batem nas mulheres coitadas"137.
Toutefois l'épithète "coitadas" traduit non seulement la compassion du narrateur envers la femme mais aussi sa réprobation de ces pratiques dignes d'un autre âge. De fait, il y a dans tout écrit, primant sur les autres, une voix qui fait autorité. Cette voix est, selon les cas, celle du narrateur ou celle de l'auteur impliqué, mais c'est par rapport à elle que fonctionne l'ensemble du système. Si cette voix est responsable de l'idéologie du texte, c'est en vertu d'un mécanisme précisément décrit par Susan Suleiman :
"Dans la mesure où le narrateur se pose comme source de l'histoire qu'il raconte, il fait figure non seulement d' "auteur" mais aussi d'autorité. Puisque c'est la voix qui nous informe des actions des personnages et des circonstances où celles-ci ont lieu, et puisque nous devons considérer - en vertu du pacte formel qui, dans le roman réaliste, lie le destinateur de l'histoire au destinataire - que ce que cette voix raconte est "vrai", il en résulte un effet de glissement qui fait que nous acceptons comme "vrai" non seulement ce que le narrateur nous dit des actions et des circonstances de l'univers diégétique, mais aussi tout ce qu'il énonce comme jugement et comme interprétation. Le narrateur devient ainsi non seulement source de l'histoire mais aussi interprète ultime du sens de celle-ci" 8.
C'est pourquoi, pour reprendre le fil de notre argumentation, quand le narrateur utilise l'expression "coitadas", c'est qu'il "énonce [un] jugement" désapprouvant ainsi les pratiques moyenâgeuses dont souffre la femme rurale de la part de certains hommes du Latifundium. Mais à la vérité, par ce canal, le narrateur s'érige aussi en "autorité" et "interprète ultime" du sens de l'exclusion de la femme rurale.
Voyons maintenant ce phénomène d'exclusion chez la première génération de ruraux dont Sara da Conceição - figure la plus aboutie de la femme exclue - en est le personnage féminin paradigmatique.
Dans la société moderne que représente le roman et même bien avant l'avènement de la République où l'argent et l'aisance financière déterminent le statut social d'un individu, il n'est guère étonnant de constater que la mise à l'écart affecte plus la femme prolétaire que sa congénère bourgeoise. Aux contingences de la nécessité qui affectent la première s'ajoute le poids des stéréotypes et des stigmates sur fond de mentalité rétrograde et machiste. Sara da Conceição, dans la mesure où elle assume un rôle allégorique 9, celui de l'amante, fait figure de personnage référentiel. Du point de vue d'une caractérisation poétique qui scinde les personnages en fonction de trois mots maîtres : désir, communication et participation, l'on peut affirmer sans risque de nous tromper que, contre vents et marées et contre la volonté de tous, elle a aimé Domingos Mau-Tempo à l'obsession, l'homme avec qui elle a décidé de s'unir pour le meilleur et pour le pire. Elle assume également le rôle de mère de famille soumise et silencieuse.
Nonobstant la flamme qui les a unis, Sara da Conceição a souffert de nombre de vexations eu égard aux murs de son homme qui laissent à désirer. Après la disparition tragique de celui-ci, elle alla vivre avec ses enfants dans la demeure paternelle dans un premier temps, puis d'une concession à une autre, elle se consacra exclusivement à l'éducation de ses enfants.
Enfin, elle incarne la première génération de ruraux correspondant à l'ère de l'"apprentissage exemplaire négatif"10. Pendant cette phase de la longue marche pour la dignité des travailleurs saisonniers, le statut de la femme, dans cette société aux fortes caractéristiques féodales, était secondaire.
Dans une imitation parodique et ironique d'expressions évangéliques liées à Marie, mère de Jésus, la parole dite par Sara da Conceição qui se dit esclave du Seigneur, du maître du latifundium - "faça em mim a sua vontade" (comme l'a dit dans le cas biblique Marie de Nazareth à l'ange de l'annonciation) traduit fidèlement la psychologie de cette figure féminine dévouée, silencieuse et docile symbolisant un âge réactionnaire de l'éveil de conscience des ruraux.
Par ailleurs, la figure de ce personnage féminin n'a de sens qu'éclaircie à l'aune de la foule de relations structuralement nécessaires (Cf. Humberto Eco) qui la lie au système de personnage du roman, entendons par là son mari Domingos Mau-Tempo, ses enfants João, Maria da Conceição, Anselmo, à son père Laureano Carranca, aux Picanço pour ne citer que ceux-là. Pour les uns elle est épouse ou mère ; pour les autres, fille, sur ou belle soeur. A ce titre, elle fait figure de personnage anaphore.
De l'union de ces deux figures paysannes naîtront des enfants dont João Mau-Tempo, Anselmo, Maria da Conceição. A l'instar de sa mère, celle-ci connaîtra également une vie marquée par la mise à l'écart. Enfant, on la voit exercer un travail aliénant et destructeur dans une propriété appelée suggestivement "Pendão das mulheres", lieu d'ailleurs où son frère João Mau-Tempo rencontrera sa future épouse Faustina lors de la quinzaine de repos. A l'âge adulte elle exercera un autre métier précaire : celui de domestique dans un des immeubles appartenant aux latifundiaires (la puissante dynastie des Bertos) à Lisbonne. A ce titre, à la suite des idées défendues par Jérôme Ballet, Claude Dubar et Serge Paugam, la notion de travail précaire et le concept d'exclusion ont toujours entretenu un rapport étroit. Pour témoigner de la réification de cette travailleuse domestique qu'est Maria da Conceição et son statut social précaire - matérialisé par le manque de liberté et l'incapacité de décider qui le caractérise -, il convient de se référer à la scène de libération des prisonniers politiques - dont son propre frère João Mau-Tempo - arrêtés pour sédition et incitation à la grève, notamment pour une révision à la hausse du salaire horaire de la part des latifundiaires, auxquels elle n'a pas pu offrir l'hospitalité. Libéré nuitamment de la prison de l'Aljube, livré à lui-même dans une nuit d'hiver glacial, João Mau-Tempo sera finalement hébergé par un inconnu répondant au nom de Ricardo Reis - imitation parodique de l'onomastique d'un des hétéronymes du poète lisboète de l'intranquillité -Fernando Pessoa. Or la logique voudrait que dans le Portugal que le romancier essaie de représenter avec une tradition judéo-chrétienne ancrée que ce soit la sur (Maria da Conceição) qui accueille son frère João Mau-Tempo. Cette impossibilité d'agir à ce stade de l'intrigue semble être la marque la plus évidente de sa marginalisation. A l'opposé de figures féminines émancipées et issues du prolétariat rural, telles Maria Adelaide Espada ou Gracinda Mau-Tempo, elle semble être une figure féminine silencieuse, objet et non actrice de l'épopée à l'envers des ouvriers agricoles, une espèce de révolution aux fortes connotations marxistes-léninistes qui trahit la coloration politique de l'auteur José Saramago, militant du Parti Communiste dès 1967.
Dans leur vie de couple et leur lutte pour la "survie", aussi instinctive soit-elle, Domingos Mau-Tempo et Sara da Conceição seront confrontés à des obstacles incarnés par des opposants mais peuvent aussi compter sur le soutien d'adjuvants. C'est dans le registre des adjuvants qu'il convient d'inscrire des personnages comme Picanço (même si l'aide de ce dernier ne concerne que la malheureuse Sara da Conceição et sa descendance auxquelles il a apporté un précieux secours quand Domingos Mau-Tempo, aveuglé par le destin et la débauche a formulé la volonté de récupérer les siens). Mais les Mau-Tempo seront aussi confrontés à l'adversité d'opposants comme Laureano Carranca et Joaquim Carranca sans oublier les membres de la classe oppressive étudiés plus haut. Toutefois relativisons notre point de vue concernant ce dernier car, à un certain stade de l'intrigue comme nous le verrons après le suicide de Domingos, il sera le père des enfants de Sara da Conceição qui n'en ont pas un et Sara assurera le rôle de femme de Joaquim Carranca qui n'en a pas une. Nous voyons donc que la situation sociale de Sara da Conceição, par devers même sa caractérisation poéticienne 11 n'est guère enviable car rimant très souvent avec oppression, exclusion ; et cela malgré sa situation matrimoniale avec le cordonnier ivrogne Domingos Mau-Tempo qui, en principe censé la protéger et lui procurer un regain de sécurité sociale, la fragilise impitoyablement. Aussi en un ultime ressort une série de question mérite d'être posée : Qu'en est-il de Maria Adelaide Espada ? Apportera-t-elle le salut à la femme longtemps reléguée au second plan de la vie du latifundium ?
3. Un soleil d'équité: Maria Adelaide Espada
La troisième génération de la famille Mau-Tempo, comme nous l'avons vu au cours des pages précédentes, est représentée par Gracinda Mau-Tempo qui, contrairement à sa mère (Faustina Mau-Tempo) et à sa grand-mère (Sara da Conceição), ne se révèle pas totalement soumise au modèle masculin et ose imposer sa volonté à son mari. Son mariage avec Manuel Espada donne lieu à un rituel positif marqué par la fraternité, par l'abondance de nourriture et de vin (p. 222), mais aussi par le discours hypocrite du Père Agamedes et, surtout par la réaction de António Mau-Tempo, son frère qui a eu l'audace de faire taire le représentant du pouvoir, dans une attitude audacieusement subversive qui pointe vers une étape nouvelle de conscientisation des ruraux :
"Estamos no casamento da minha irmã, senhor Padre Agamedes, não é hora de falar de greves nem de merecimentos, e a voz foi tão serena que nem parecia de zanga, mas era, ficaram todos muito calados à espera do que ia acontecer, e o padre disse que bebia à saúde dos noivos e depois sentou-se." (p. 223)
Pour Maria Graciete Besse, "Tal como nos explica Roger Caillois, a festa, autorizando todas as transgressões rituais, não passa de um retorno ao grande tempo mítico que elimina o "tempo referenciado."" 12.
Cependant, cette attitude de António Mau-Tempo révèle une étape importante dans la prise de conscience et dans la capacité de contestation des travailleurs ruraux.
A ce mariage se succède, quelques moments plus tard, la naissance de Maria Adelaide qui, comme l'affirme Teresa Cristina Cerdeira da Silva, est une figure féminine qui "não se limitará a ser actriz num cenário de homens, mas que inaugurará um novo ciclo onde também as mulheres, ao lado de todos os marginalizados, se levantam do chão." 13
C'est dire donc que, contrairement à Sara da Conceição symbolisant l'âge de l'obscurantisme et de la soumission et plus que sa propre mère Gracinda Mau-Tempo habitée par l'idée d'émancipation, Maria Adelaide se veut actrice ("actriz") et non objet de l'écriture de l'épopée à l'envers du Latifundium. Pour elle, un homme ou une femme ne compte pas exclusivement en termes d'appartenance à tel ou tel autre sexe mais par sa valeur intrinsèque, à savoir la capacité de l'un (e) ou de l'autre à agir sur son environnement sociopolitique par le biais de l'engagement militant. Celui-ci doit par contre être le résultat d'une prise de conscience et d'une démarche intelligente. Elle est donc le condensé, l'aboutissement du processus d'apprentissage (déclenché dès la première génération de ruraux, en passant par les phases intermédiaires) tel qu'on le retrouve dans le Bildungsroman, une autre modalité du roman à thèse (tel que le conçoit Susan R. Suleiman).
D'origine noble si l'on en croit le radical de son prénom "Adal" signifiant noble en allemand (Cf. Maria Graciete Besse, 2008), elle a hérité des yeux bleus de son aïeul à l'ascendance nordique qui avait forcé, un jour, une jeune fille venue remplir sa jarre d'eau à la source de Amieiro.
Sa naissance, sous le mode d'une "stylisation parodique" significative du verbe biblique, nous est présentée comme la venue au monde du Christ avec la scène de l'étable exposée plus haut. Concernant cette scène à la densité symbolique et allégorique reconnue, inspirons-nous des travaux de Maria Graciete Besse. En effet, pour l'universitaire, la scène de la naissance de Maria Adelaide Espada donne lieu à une notable recréation de la scène de l'étable. Mieux, pour Maria Graciete Besse, le narrateur présente soigneusement les éléments structurants de cette représentation biblique : "le bienheureux pêché d'Eva" (p. 293), la présence des animaux, bien que différents, étant donné que l'un d'eux, le porc, "não é próprio para presépios" (p. 295), la clarté définie par les yeux bleus de la jeune fille, comme "duas gotas de água banhadas de céu" (p. 295) et surtout la venue des hommes de la famille, identifiés aux "três reis magos" (p. 296) : le grand-père, João Mau-Tempo, apporte comme présent une fleur de géranium, António offre à sa nièce une marguerite jaune; Manuel Espada, le papa, qui voyage dans une "noite estrelada e imensa" (p. 299) conduit par "dois vagalumes" qui lui indiquent le chemin, "não traz presentes ( ) Estende as mãos e cada uma delas é uma grande flor". (p. 300).
La description du "Presépio" se termine avec le lever du soleil: "gritaram para dentro que estava o sol nascendo" (p. 300). A l'image du Messie dont la venue annonce une ère nouvelle, Maria Adelaide Espada, annoncée par la clarté, incarne les expectatives du peuple métaphoriquement mises en évidence par l'instance narratrice dans ce qui suit:
"Visto de Monte Lavre, o mundo é um relógio aberto, está com as tripas ao sol, à espera de que segue a sua hora". (p. 138, LC).
La naissance de Maria Adelaide annonce ainsi une époque de rédemption et pointe vers une lecture eschatologique du temps et cela en raison de son identification au Messie car, comme le remarque Maria Graciete Besse, convoquant Mircea Eliade : "Le Messie ( ) assume le rôle eschatologique du Roi-dieu ou du roi représentant de la divinité sur la Terre, et dont la principale mission était de régénérer périodiquement la Nature entière" 14.
Ce personnage, nous l'avons vu, est donc le produit de l'alliance de la fougue juvénile, de la conscience de Manuel Espada et de l'émancipation de la figure féminine engagée Gracinda Mau-Tempo. Tant l'histoire familiale que le contexte social favorisèrent l'émergence de ce personnage féminin acteur et non objet de l'écriture de la grande épopée des travailleurs saisonniers ; épopée non de l'élite sociale magnifiée par Luís Vaz Camões dans "Os Lusíadas" mais de ceux qui n'ont pas droit de cité dans l'historiographie officielle, les laissés pour compte du système capitaliste, les masses populaires opprimées. Elle est, dans ce roman, le porte-parole le plus représentatif de José Saramago dans l'uvre duquel la femme occupe une place centrale. Elle y est chargée d'une connotation mystique réelle et évocatrice de grandes paroles politiques. A ce titre Maria Adelaide Espada fait figure de personnage embrayeur.
La relation entretenue par ce personnage et la thématique de l'exclusion n'est pas explicitement mise en évidence. De fait, son âge adulte correspond avec la fin des exclusions et l'avènement de la justice sociale. Nous pouvons cependant affirmer qu'elle a toujours fait montre d'une grande fierté et d'une grande dignité et, sans nul doute, elle a été une source de motivation pour ses père et mère Manuel Espada et Gracinda Mau-Tempo, eux-mêmes ouvriers agricoles engagés et conscients. Rien que pour cela les combats menés par Maria Adelaide Espada méritent un relief particulier dans le combat pour l'émancipation des femmes et la lutte contre leur exclusion.
En définitive, il convient d'affirmer que les femmes ont très souvent été reléguées au second plan de la vie sociale en raison des traditions patriarcales rigides en vigueur dans bien des sociétés. L'ibérique ne fait pas exception à la règle. En outre nous savons que le salazarisme est un système de domination politique particulièrement répressif et excluant et ayant fondamentalement accentué les inégalités sociales au Portugal. Dans une telle société dominée par la trilogie dominatrice Etat, Eglise et Latifundium où tout le prolétariat se trouve exploité, les femmes y sont marginalisées, indépendamment de leur appartenance à la classe bourgeoise ou au prolétariat. Cette exclusion revêt cependant des spécificités et des particularismes variant en fonction de l'appartenance de la femme à la bourgeoisie ou au prolétariat rural. Toutefois c'est la femme prolétaire - sur quatre générations de la famille Mau-Tempo - qui sera au cur des combats les plus âpres qui aboutiront finalement à la fin des exclusions avec la génération de Maria Adelaide Espada dont la figure se confond avec celle du Messie.
Le premier intérêt de notre travail c'est qu'il a consisté à mettre en exergue l'exclusion de la femme dans le gotha bourgeois. Dans ce registre, il convient de dire que, même si elle est affranchie des contraintes de la nécessité, la femme s'y trouve quand même exclue en raison du machisme mais également de la pauvreté des sentiments affectifs. Le second intérêt de notre étude est relatif à la mise en exergue du calvaire de la femme prolétaire. Il épouse des contours où les conditions matérielles peu avantageuses, le poids du patriarcat et l'exploitation implacable venant de la bourgeoisie jouent un rôle de tout premier plan. De la soumission de Sara da Conceição de la première génération, la femme rurale finira par s'affranchir du joug sous lequel elle pliait avec la génération de Maria Adelaide Espada de la quatrième génération, en passant par les générations intermédiaires (João et Faustina, Gracinda Mau-Tempo et Manuel Espada). Enfin en un ultime ressort notre travail a consisté à dépeindre la fin de l'exclusion des femmes dans Levantado do Chão avec la figure féminine charismatique Maria Adelaide Espada comparée métaphoriquement au Messie comme nous l'avons vu plus haut.
Aussi une question mérite-t-elle d'être posée : sous quel angle, l'exclusion de l'enfant se prête-t-elle à l'analyse ? Mais, de fait, cela peut constituer le point de départ pour la rédaction d'un autre article.
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Notes :
1. Mahamadou DIAKHITE est Maître de Conférences Assimilé au Département de Langues et Civilisations Romanes de l'Université Cheikh Anta Diop de Dakar.
2. "Je définis comme roman à thèse un roman réaliste (fondé sur esthétique du vraisemblable [cette vraisemblance pourra être une allusion explicite au réel, c'est nous qui soulignons] et de la représentation) qui se signale au lecteur principalement comme porteur d'un enseignement, tendant à démontrer la vérité d'une doctrine politique, philosophique, scientifique ou religieuse". Cf. Susan R. SULEIMAN, Le roman à thèse ou l'autorité fictive, Paris, PUF écriture, 1983, p.14.
3. Cf. "É uma cerimónia linda, derretem-se os corações de santa compaixão, nenhuns olhos ficam enxutos, nem os narizes, que é Inverno agora e sobretudo lá fora, encostados ao prédio estão os garotos de Monte Lavre que vieram a esmola, vede como padecem, e descalcinhos, doridos, olhai como as meninas levantam um pezinho e logo o outro a fugir do chão gelado [...]. É uma fila à espera, cada qual com sua latinha na mão, todos de nariz no ar, fungando o ranho, a ver quando enfim se abre a janela do andar e a cesta pendurada por um cordel desce do céu, devagarinho, a magnimidade nunca tem pressa, era o que faltava, a pressa é que é plebeia e sôfrega, só não engole os feijões frades mesmo assim porque vêm crus". Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão 16a edição, Editorial Caminho, Outubro de 2002, pp. 187-188.
4. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., p. 291.
5. Cf. Ibidem, p 125.
6. Cf. Idem.
7. Cf. José SARAMAGO, Levantado do Chão, op. cit., p 291.
8. Cf. S. SULEIMAN, Le roman à thèse ou l'autorité fictive, op. cit, supra, p.90.
9. Pour Philippe Hamon, l'amante, cet être romanesque qui, contre vents et marées, soutient son bien-aimé, est un rôle allégorique enraciné dans la tradition. Or les personnages allégoriques tout comme les sujets historiques (Napoléon, etc.) sont des personnages-référentiels ; par conséquent Sara da Conceição appartient à cette catégorie sémiologique. Cf. Roland BARTHES et al., Poétique du récit, Paris, Editions du Seuil, 1977, p. 123.
10. Cf. Susan Rubin SULEIMAN, Le roman à thèse ou l'autorité fictive, op. cit., supra, p. 313. Entendons par cette terminologie d'"apprentissage exemplaire négatif" la phase négative de l'éveil des consciences chez le prolétariat rural qui se caractérise par la soumission, l'obscurantisme et le silence chez la femme et chez le prolétariat d'une manière générale par des sautes d'humeur, des querelles intestines. L'exemple le plus frappant est la rivalité qui a opposé les travailleurs du Nord et ceux du Sud ou encore quand certains ouvriers agricoles pensent que pour se venger de la classe bourgeoise (qui refuse de leur payer un salaire décent) il faut mettre le feu aux récoltes. Or ces ouvriers ignorent qu'avec les flammes qui s'empareront de celles-ci va s'évanouir également l'espoir d'avoir un travail rémunéré. Or sans travail il n'y aura pas de pain nourricier pour nourrir le peuple. Par conséquent la famine affectera le camp prolétaire anéantissant à jamais les velléités révolutionnaires. Pendant cette phase non seulement la femme est soumise, ignorante mais aussi, à la l'image de tout le prolétariat, elle n'est pas animée par une conscience de classe et ignore les responsables de sa marginalisation. Certains critiques de la littérature néo-réaliste désignent également cette expression "apprentissage exemplaire négatif" par l'appellation de "conscience en soi".
11. Nous entendons par le vocable poétique : "l'étude immanente des procédés internes de l'uvre littéraire" tel que le conçoit Vincent JOUVE dans son livre incontournable suggestivement intitulé : La poétique du roman, 2e édition, Paris, SEDES, 1997.
12. Cf. Maria Graciete BESSE, José Saramago e o Alentejo: entre o real e a ficção, Lisboa, Casa do Sul, 2008, pp. 78-79.
13. Cf. Teresa Cristina CERDEIRA DA SILVA, José Saramago: entre a história e a ficção: uma saga de portugueses, Lisboa, Pub. D. Quixote, 1989, p. 259.
14. Cf. Mircea ELIADE, Le mythe de l'éternel retour, Paris, Ed. Gallimard, 1969, pp 123-124